Alice in Wonderland

Li “Alice no País das Maravilhas”, escrito há muito tempo (século XIX) por Lewis Carrol. É uma obra que, a despeito de poucos terem realmente lido o livro, todos conhecem, graças à tradição das estórias contadas de orelha em orelha, e ao desenho homônimo dos estúdios Disney.

Acontece que não é uma estória para crianças. Eu mesmo, quando garoto, odiava o desenho de Alice. Lá, nada fazia o menor sentido. Era chato, monótono e hermético.

Hoje eu vejo que é um livro cheio de passagens filosóficas que, como todo bom trabalho de filosofia, busca questionar e fazer com que o leitor questione-se a si mesmo.

Alice é uma garota bonitinha, loirinha, fofinha que caminha pelo bosque e vê um coelho com um relógio. E ela segue o mamífero apressado em direção a toca. Ela entra na toca do coelho rumo a um mundo diferente. Um mundo mágico. O mundo da fantasia.

É uma busca dentro dela mesma. Todo aquele “país” lhe é estranho. Falta sentido. É o “eu” sem identidade. É a busca por algo que nos faça descobrir quem somos. “Conhece-te a ti mesma”.

O final só pode ser uma brincadeira do autor, fingindo uma simplicidade apenas aparente em elementos tão complexos (ou excessivamente simples, dependendo do ponto de vista). Um sonho, por mais nonsense que seja, deixará marcar e fará pensar. Sempre faz pensar, mesmo que por pouco tempo.

Exemplo: o diálogo com a lagarta (que sofrerá metamorfose em breve, assim como a mudança a que Alice também será submetida – ou não - depois da experiência fantástica):


- Bom, quem sabe a sua maneira de sentir talvez seja diferente – disse Alice –, mas o que sei é que tudo isso pareceria muito esquisito para mim.

- Você!- exclamou desdenhosamente a Lagarta. – E quem é você?

Isso levava tudo outra vez ao início da conversa. Alice já estava meio irritada com os comentários tão lacônicos da Lagarta. Empertigou-se disse com a maior seriedade: - Acho que a senhora deveria me dizer primeiro quem é.

-Por quê?

-Essa pergunta era também desconcertante.



Quem sois vós? Assim como Alice, nós teremos que descobrir.

O filme “Tudo O Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar”(Everything You Always Wanted to Know About Sex But Were Afraid to Ask, EUA, 1972), dirigido por Woddy Allen sofre do problema que geralmente ataca produções que possuem várias histórias reunidas: a segmentação em capítulos não forma um todo regular para um resultado final, no mínimo, satisfatório.

São sete histórias pequenas que tratam de responder a perguntas relacionadas a sexo, como “afrodisíacos funcionam” ou “o que é sodomia”. A maioria dessas historietas é ruim na medida em que caem na comédia pastelão e apelativa (uma grande mama que escapa de um laboratório, o bobo da corte que tem de traçar a rainha a pedido do fantasma de seu pai, o pai de família que se traveste de mulher, etc...).

Uma coisa não falta ao filme: bom-humor. E só com muito bom humor mesmo é que se pode encarar o projeto. Uma ou outra idéia se salva pela originalidade, como o corpo humano que funciona como uma grande engrenagem, na última e melhor parte.

No geral, um horror, tchê!