Hoje a noite, aqui na selva...

Sempre achei que O Rei Leão não era filme para crianças. Apesar de ser desenho animado e um musical típico dos estúdios Disney, como em A Bela e a Fera, o filme tem uma história mais profunda, que expressa angústias, medos, incertezas e lições que temos de enfrentar em algumas fases de nossas vidas. Quando vi o filme pela primeira vez, logo que estreou nos cinemas – em 1994 -, tinha sete anos e adorei, embora tenha achado a história triste. Anos depois – com um olhar mais maduro, espero -, vejo o filme de forma diferente: um roteiro complexo que explora, na fábula animal, as peculiaridades e os problemas que nós, seres humanos, encaramos na vida real.

Dirigido por
Roger Allers, Rob Minkoff, a história se passa na savana africana, onde acompamos a jornada de um jovem leão chamado Simba até a idade adulta. O filme começa com o nascer do sol e o aparecimento de vários animais típicos daquele ambiente - rinocerontes, girafas, zebras - ao som de uma mistura de ritmos africanos e da belíssima música “Ciclo sem Fim”. Daí vem o babuíno Rafiki e “batiza” o pequeno leão, filho do rei Mufasa e da rainha Sarabi. É então que o enredo nos leva pelos caminhos do destino de Simba.

O roteiro, escrito a seis mãos por
Irene Mecchi, Jonathan Roberts, Linda Woolverton, dialoga com textos bíblicos: a história de Moisés, que assim como Simba foi criado em berço real e teve que fugir para o exílio, de Josué – sucessor de Moisés que leva o povo de Israel à Terra Prometida. E, principalmente, o roteiro segue os passos de Hamlet, uma peça de teatro escrita por William Shakespeare, por volta de 1600. Assim como na peça, está presente a ameaça familiar, retratada em O Rei Leão pelo irmão do rei, Scar, a presença do fantasma do patriarca e, sobretudo, a grande questão do “ser ou não ser”.

Simba, depois da morte do pai, foge do reino do qual seria o sucessor natural, deixando a “coroa” para seu tio Scar, que governa em companhia das hienas – a parte musical em que ele planeja a morte do rei é elaborada com tons escuros e cores frias que, assim como sua juba negra, dão a tonalidade do mundo de sombras que o tio malévolo representa. Simba encontra, então, duas criaturas que ensinam uma lição filosófica: “Quando o mundo vira as costas para você, você vira as costas para o mundo”, diz Timão. E é daí que surge a lição de vida “Hatuna Matata”, que significa “sem problemas”: resolver os problemas ou deixá-los para trás. A música “Hatuna Matata” é simplesmente demais: muito bem escrita e animada pelos amigos inseparáveis Timão, um suricate, e Pumba, um javali.

É interessante como os animadores desenvolveram certas cenas, como na parte em que Simba vai ao “reino das sombras” e Mufasa o repreende. Pouco antes da bronca, tem-se a grande pegada do rei em contraste à pequena pata do filho, evidenciando que o pai tem mais experiência e que o filho deve, de alguma forma, respeitá-lo e ouvi-lo.

O personagem Simba, com o passar da projeção, se desenvolve: no começo é uma “criança” (filhote, tá bom) arrogante, que sabe que é herdeiro de um reino animal vasto e acha que, por isso, pode mandar em todo mundo, o que inclui o pássaro azul amigo do rei, Zazu.

Assim, também merece destaque a parte em que Simba, já crescido, vive em seu mundo de alegria com Timão e Pumba e, para “acordar” recebe uma paulada de Rafiki. Essa paulada serve para que o leão se lembre de quem ele é e para chamar a atenção para os ensinamentos do velho rei Mufasa: “olhe para dentro de si, Simba” – a resposta não está no exterior, mas em nós mesmos, evidenciando o caráter amplo e filosófico de um filme que, a primeira vista, parece simplesmente uma nova animação bonitinha dos estúdios Disney.

A riqueza do filme vem, também, da trilha sonora. A música é de Hans Zimmer, Elton John e Lebo M. São ritmos épicos e de ópera misturados com tons africanos que transmitem a liberdade do mundo animal nas savanas. Os números musicais são recheados por boas sacadas e coreografia de, como se diz por aí, encher os olhos. O filme foi indicado para quatro Oscars: trilha sonora e pelas canções originais "Circle of Life", "Hakuna Matata" e"Can You Feel the Love Tonight", esta última levando a estatueta dourada junto a de melhor trilha sonora.

Curiosamente, o filme era para ser um especial da National Geografic em versão animada, mas foi muito mais do que isso. Com uma história interessante – na verdade um enredo antigo, mas com roupagem nova -, trilha sonora de altíssimo nível e mensagens que superam quase tudo o que já foi passado por outros filmes da Disney, O Rei Leão é um filme para ficar na memória. Mas não se esqueça: Rafiki, não deixe o Simba cair. “Hatuna Matata”.

Jornaleiros

- Deixa de ser uma mulher dessa aí pra virar um esqueleto humano – diz um homem de aproximadamente 30 anos, vestido de camisa pólo azul e uma barba por fazer.
- É! E mulher depois de sair do sol na praia vira um espetáculo – responde outro homem, de aparência um pouco mais velha, com o sotaque carregado de quem vive há muito tempo na Ilha de Santa Catarina.

Esse diálogo acontece dentro da banca de jornais e revistas chamada “Banca Trindade”. Localizada em frente a um supermercado - bem próxima à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - a banca tem mais de quinze anos. “Quando eu era criança essa banca já existia. Eu passava por aqui”, lembra Augusto Miranda, o rapaz que é o administrador do negócio.

A banca não é pequena. Além de vender diversos jornais e revistas de todos os tipos, também são comercializados guloseimas, cigarros, sorvetes e alguns livros. Enquanto converso com Augusto, muitas pessoas nos interrompem:

- O senhor tem o jornal “A Notícia” aí?
- Tem cigarro Carlton?
- Quanto custa esse chicabon aqui?

Mas ele explica que isso não acontece com qualquer banca de jornal. “Depende do ponto que se tem. Tem uma banca lá embaixo que fechou. Não dava lucro”, diz apontando para a rua.
O movimento, de fato, é intenso na região. Além do supermercado sempre cheio de gente entrando e saindo, a Universidade traz alunos que sempre consomem jornais e revistas. É assim que a “Banca Trindade” tem seu lucro.

Por trás de dois administradores que se revezam no comando das vendas está quem realmente montou a banca. Augusto o chama de Batman. “Hoje ele vive escondido na sua toca. Só sai para receber o dinheiro”, afirma Augusto se referindo ao empregador. E quando pergunto se ele gosta de trabalhar na banca, ele é categórico: “Eu gosto é do meu patrão”.

Para abrir uma banca de jornal, o primeiro mês é financiado pelo próprio dono. A partir daí se consegue as publicações por meio de empréstimo consignado, ou seja, as mercadorias são entregues para serem negociadas com terceiros – os clientes. O que não vender é recolhido pelas editoras.

No Brasil são cerca de 40 mil pontos de venda, segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ). Estão em todo o lugar: shoppings, estações rodoviárias, perto de supermercados, escolas, faculdades, no metrô. Já tomaram parte da paisagem e se tornaram algo corriqueiro.

No Brasil, esse tipo de comércio é herança dos italianos, espanhóis e portugueses, que abriram as primeiras bancas brasileiras durante o século XIX. Mais do que simples ponto de venda, elas são pontos de encontro para conversa ou descontração, como nos bate-papos informais em que pessoas que nunca se viram antes conversam sobre os mais diferentes assuntos, de mulheres bonitas até o campeão de futebol, de culinária, novelas e viagens.

Augusto não fala qual o rendimento da banca. “Aí depende. Cada mês é diferente. O lucro de uma banca não é fixo, mas sempre tem que pagar luz, telefone e aluguel”.

- Mas como é trabalhar em uma banca de jornal? Deve ter horas em que não tem nada pra fazer. – eu pergunto, interessado.
- Vixi. Que nada! É duro porque não fica parado. Tem dias que fica cliente até as dez, mas daí eu fecho. Não passo de dez horas [da noite]”, diz Augusto. “A única hora livre é das sete e quinze da manhã até umas oito e meia. E só. Depois é só correria”, completa.

Assim que acabo de pegar as informações básicas ele olha pra mim e pergunta: “Ei, tu não quer abrir uma banca, quer?”.

Impossible

Missão Impossível é uma série na qual a ação sempre foi intensa e a história sempre descambava para um típico forçado que dava vontade de sair dando risadas no cinema. Eram máscaras de borracha (características de MI), helicópteros voando em túneis de estrada, o herói que nunca se fere e faz a arma levitar para atingir seu alvo. A verdade é que a série – o primeiro dirigido por Brian de Palma e o segundo, John Woo - sempre teve a intenção de serem bons filmes de ação com elementos, digamos, sobrenaturais. Com Missão: Impossível III todos esses detalhes continuam presentes, mas o diretor JJ Abrams mudou a série. Com esse filme nós não saímos do cinema dando risadas da produção.

O agente da IMF Etahn Hunt (Tom Cruise) leva uma vida tranqüila com sua noiva que não sabe de sua verdadeira ocupação. Ele é responsável por treinar novos agentes e é chamado para resgatar uma de suas pupilas que foi seqüestrada por Owen Davian (Philip Seymour Hoffman), um comerciante do mercado negro. E é assim que uma equipe é montada para a nova missão impossível.

O filme é alucinante do começo ao fim. Tem início em um interrogatório no qual vemos Hunt sendo torturado em frente a Owen Davian, o que é uma evolução na série. Hunt, talvez pela proximidade com sua amada, está bem mais humano nesse terceiro filme. Ele ainda é o invencível, mas pelo menos sofre, chora, leva esporro de seu patrão. Além disso o filme tenta tornar-se mais natural. Somos levados a conhecer, por exemplo, o modo como se criam aquelas famosas máscaras de borracha. A tecnologia não é muito convincente, mas ao sabermos como ela é feita, fica mais fácil de aceitá-la.

Claro que Missão: Impossível III tem algumas incongruências, coincidências, compaixão, um final até certo ponto questionável, mas é inegável que o filme tem uma narrativa cativante. Uma ação precede outra e mais outra e quando vemos o filme já está no fim. É um ritmo intenso do início ao fim.

Philip Seymour Hoffman (ganhador do Oscar de Ator por Capote) é o melhor vilão da série. Seu domínio do personagem, de seus anseios e objetivos é perfeito. Ele cria um contraponto constante com o mocinho. Se nós temos Ethan Hunt, eles têm Owen Davian, que parece mais forte (ou mais bem protegido) que Hunt.

É. Cumpre o que promete. O que JJ Abrams (co-autor da série Lost e estreante em longas-metragens) fez com Missão Impossível é louvável: um filme de ação da melhor qualidade, de longe o melhor da série.

Almost...

A música, a verdadeira música nos escolhe”, essa é o início da fala de um famoso crítico musical chamado Lester Bangs (Philip Seymour Hoffman) no filme Quase Famosos. A relação das pessoas com a música é, por si só, algo transcendente. O que nos deixa tão ligados a uma sucessão de sons que nos agradam? A música tem poder.

A história de um jovem de 15 anos – fã de rock´n´roll – que consegue um trabalho na revista Rolling Stone para acompanhar a banda Stillwater pelos Estados Unidos foi baseada nas memórias do próprio diretor, Cameron Crowe. Ele teve uma experiência semelhante quando escrevia para a revista Rolling Stone aos 15 anos de idade para acompanhar a turnê da banda Led Zepelin.

No filme, o garoto se chama Wiliam Miller (brilhantemente vivido por Patrick Fugit) e mora em uma casa na qual sua mãe (Francis McDormand) é do tipo superprotetora. Ela vive com o filho e sente-se totalmente na necessidade de lhe dar extremo amparo (“Não use drogas, não use drogas”). Apesar de, tanto Wiliam quanto sua irmã – que deixará a casa depois de completar 18 anos –, sempre terem ouvido que rock´n´roll é subversivo, música do demônio que só fala em sexo e drogas, eles viraram fãs ávidos do gênero musical.

Wiliam consegue, então, um trabalho na revista de música Rolling Stone para acompanhar a turnê de Stillwater, e é nesse caminho que ele vai conhecer o mundo do rock: mulheres, drogas, verdades, envolvimentos pessoais.

O filme trata muito bem da fronteira entre jornalismo e crítica musical. Alguém que possui certo envolvimento é capaz de escrever de modo isento? Deve haver, necessariamente, distinção entre ser jornalista e ser fã? São algumas questões que o filme propõe e tenta responder.

O momento em que o pequeno Wiliam tem o primeiro contato com a música é magnífico. Ele pega os discos que a irmã lhe deu de presente e começa a tocar lentamente as capas dos discos. Seu olhar é de expectativa, afinal está fazendo algo que não é permitido por sua mãe. E, num olhar de êxtase e sublimação, ele acende uma vela e coloca o rock´n´roll. É assim que ele cresce.
O garoto serve de ligação entre o espectador e a história. Assim, fica fácil de nos identificarmos, tanto pelo seu carisma e simpatia quanto pela sua história de vida e seus sonhos. Torcemos para ele conseguir o que deseja e vamos a seu lado acompanhando atônitos às fases de suas realizações.

A simpática história deixa, ao espectador desavisado, uma estranha ligação de fatos inverossímeis (Garoto adolescente contratado pra trabalhar em uma grande revista? Conta outra...) e improváveis coincidências. Mas grande parte disso é a história real do diretor. Direção que segue empolgando em um ritmo vibrante de mistura entre imagens e a excelente trilha sonora. Afinal, um filme sobre rock´n´roll tem que ter um som apropriado.

Realmente, seja por atuações memoráveis (Francis McDormand, Kate Hudson, Patrick Fugit e o excelente Philip Seymour Hoffman), o roteiro notável (de Cameron Crowe) ou a música bem arranjada (Nancy Wilson), o filme é uma agradável surpresa e vale a pena. E viva o rock´n´roll!

You´ve got the power!

Muito já se discutiu sobre o incrível poder que a imprensa tem. Poder de dar “vida” ou “morte” a personalidades, poder de decidir e de formar opiniões. Com possibilidades amplas de dar versões dos fatos – sobretudo no jornalismo interpretativo -, a mídia é chamada de Quarto Poder. No filme O Quarto Poder, é justamente ao jornalismo que se atribui essa alcunha, ainda que o título original não tenha tido essa função: Mad City seria algo como “cidade louca”.

Dirigido por Costa-Gravas (diretor de Z – pelo qual ganhou um Oscar - e Desaparecido, um Grande Mistério), é a história de um repórter de televisão, Max Brackett (vivido por Dustin Hoffman), que foi rebaixado na rede de TV em que atua depois de um desentendimento com o âncora do jornal. Trabalhando em uma pequena cidade da Califórnia, ele deve fazer uma matéria simples sobre um museu de história natural. É surpreendido quando um segurança demitido, Sam Baily, (John Travolta) vai pedir seu emprego de volta para a diretora do lugar. O ex-segurança está armado e o museu está cheio de crianças. É então que o repórter tenta convencer o homem a lhe dar uma entrevista exclusiva e promete comover a opinião pública com a triste história de Sam.

O filme faz transparecer a seguinte visão da imprensa: tudo por uma matéria, tudo pela exclusividade, custe o que custar. Munidos desse argumento é que vamos presenciar uma manada de repórteres e cinegrafistas prontos a qualquer coisa pelo chamado furo de reportagem. Eles pagam, corrompem, invadem, atacam, desrespeitam e roubam em um jogo desleal em que acontecimentos são manipulados.

O filme faz pensar. O que é a verdade? Será que ela é importante? No filme, vemos que o conceito é mais subjetivo do que poderíamos imaginar.

Sob a ótica da mídia retratada em O Quarto Poder a verdade não é tão importante assim. As visões que os meios de comunicação – e, por extensão, a opinião pública - têm de Sam são extremamente volúveis e oscilam de acordo com os diferentes interesses envolvidos.

Costa-Gravas imprime um ritmo alucinante em todas as partes do filme e o roteiro – de Tom Matthews – tem mais acertos do que erros. O repórter Max Brackett é brilhantemente interpretado por Hoffman, que reproduz a autoconfiança, egocentrismo, insensatez e a falta de escrúpulos. Ele age defendendo seus próprios interesses. É tão manipulador e mau caráter como qualquer outro de seus colegas. Mas por que não o criticamos tanto quanto aos outros jornalistas? Por que, em alguns momentos, torcemos para que Brackett consiga atingir seus objetivos? Talvez porque ele serve de ponte entre nós e a história e também de elo entre Sam e a opinião pública.

O roteiro prega, ainda, uma caricaturização e um exagero que não caem bem à história. As decisões dos jornalistas fogem, em alguns instantes, daquilo que se poderia considerar verossímil. Essa foi uma decisão dos produtores a fim de pintar com tintas grossas o que a imprensa faz, mas talvez a dose não tenha sido bem adequada.

Como um todo, o filme vale a pena. A dupla de atores tem uma química que sustenta a tensão dramática da narrativa – Travolta está em um de seus melhores papéis.

O mérito da obra, enfim, é discutir com profundidade os limites éticos da cobertura jornalística e ensinar que, afinal, o Quarto Poder é, de fato, muito poderoso.

Rir dos outros ou de si mesmo?


O terceiro filme da série Austin Powers é um apanhado geral de tudo o que já foi feito nos dois filmes anteriores, de modo que quase nada venha a acrescentar para o sucesso do espião mais cômico do mundo.

As piadas seguem a mesma tônica daquilo que já se fez e que, em Agente Nada Discreto e Agente ‘Bond’ Cama era inovador. Mas dá para dar risada com gags como nomes de personagens– Kika Cette, Mi Koma -, paródia de outros filmes e o chafariz.

Austin Powers tem que recuperar seu pai, que foi seqüestrado por Dr. Evil – o qual está aliado a Mimi-Mim e a Goldmember. Powers deve capturar seus inimigos antes que eles “dominem o mundo”.

O pai ausente de Austin, interpretado por Dustin Hoffman, é uma boa sacada para parodiar Indiana Jones. O conflito pai-filho e revelações sobre esse relacionamento são característicos em muitas outras produções. A idéia é bem aproveitada no contexto da comédia para a qual Hoffman demonstra, mais uma vez, ser talentoso. Ele demonstra o timing cômico exato, a elegância e charme típicos do pai de Austin Powers.

Outra decisão acertada é mostrar os personagens quando crianças, apesar de a brincadeira com flashbacks tirar o ritmo que a narrativa assume no decorrer do filme.

O ruim da fita é a repetição das piadas já vistas – com exceção talvez da brincadeira com as legendas quando os personagens falam em japonês -, incluindo piadas escatológicas, nojentas e desnecessárias.

Trata-se de um filme fraco, mas que não apaga o sucesso original de Austin Powers, o agente secreto que ainda desperta simpatia.

Myers está produzindo o quarto filme da série. Só espero que seja melhor do que O Homem do Membro de Ouro.

Perfeito pra quem?


Imagine a pessoa que você ama bem do jeito que você quer, sem defeitos, sem coisas que te irritam, perfeitas. A idéia parece atraente? Pois é justamente esse o tema de Mulheres Perfeitas.

Assim que chega em uma nova cidade, após ser demitida do emprego, Joanna (Nicole Kidman) estranha o fato de que todas as esposas obedecem cegamente a seus maridos. Sem nenhum tipo de questionamento, elas fazem tudo o que eles mandam e parecem felizes com isso. Joanna passa a investigar a situação e descobre um plano que tem como objetivo evitar problemas familiares e constituir a família perfeita.

Dirigido por Frank Oz, o filme deixa a pergunta: Ta, mas o que seria um parceiro perfeito? Perfeito para quem? E nesse aspecto o roteiro (de Paul Rudnick, baseado em romance de Ira Levin) provoca indagações interessantes.

Mas o filme não se propõe a ser uma experiência filosófica para pensar a perfeição no âmbito familiar. Trata-se de uma comédia hollywoodiana leve, sem pretensões. Assim, somos levados a uma série de situações superficiais - muitas sem a menor graça – para forçar uma risada aqui e ali.

O elenco, com Nicole Kidman, Glenn Close, Matthew Broderick, Christopher Walken, Jon Lovitz, entre outros, ajuda a tornar Mulheres Perfeitas um pouco mais suportável. De qualquer forma, o filme em si é descartável, tem fórmulas enlatadas e serve para uma sessão da tarde quando não se tiver nada de melhor para fazer. O livro deve ser bem diferente.

Choose life

Cult - filmes que não são sucesso de bilheteria, mas que acabam agregando grande número de fãs devotos após saírem dos cinemas. Geralmente são filmes peculiares, que não estão preocupados com a bilheteria, não seguem as fórmulas pré-concebidas da indústria e se resumem pela originalidade, seja da trilha sonora, do roteiro, da direção ou até da mensagem que os produtores desejaram transmitir.

Esse é o caso de Trainspotting – Sem Limites, de 1996. Baseado no livro homônimo de Irvine Welsh, o enredo gira em torno de jovens drogados de Edimburgo, Escócia, que vivem alucinadamente até que Renton (interpretado por Ewan McGregor, com um sotaque escocês fortíssimo) decide se livrar do vício em heroína.

Trainspotting, que remete a uma brincadeira na qual se tenta adivinhar o próximo trem – mas que cabe perfeitamente como alusão às veias de um braço de um drogado -, começa com uma correria dos protagonistas pela rua da Escócia enquanto Renton faz um discurso sobre a vida que a maioria das pessoas levam – ou tentam levar. Tudo isso ao som crescente de uma trilha sonora pop.

A trilha sonora, a propósito, é um dos grandes protagonistas do filme. É colocada com a intenção de complementar o mundo das personagens ou seus sentimentos. O som agitado contribuiu para o clima MTV que o filme possui em mais da metade da projeção.

Ao relatar um grupo de jovens desesperançados (típica geração anos 90), o diretor Danny Boyle acerta ao dar um ritmo ágil à narrativa. As cenas estão ali muitas vezes para causar repugnância, como no mergulho de Renton em uma privada do “pior banheiro da Escócia”. A montagem e as transições de cena são bastante inventivas, imprimindo o estilo de Boyle. A cena em que Renton entra em um buraco (psicológico) após tomar um baque é característica.

Assim, somos levados a perguntar: por que eles fazem isso? Ora, fica claro que eles se drogam por prazer (“pense no melhor orgasmo que você já teve, multiplique por mil e mesmo assim não chegará nem perto”, afirma Renton logo nos primeiros minutos). Mas, além disso, há um contexto, uma negação aos esquemas bem sucedidos de vida que o mundo impõe, por assim dizer. Trata-se de buscar um outro modo de vida e de felicitação, além do tradicional: família, filhos, almoço de domingo, casa, televisão. Aqueles jovens encontram nas drogas a saída para os problemas e a solução para a monotonia.

Mas tudo o que se planta, um dia irá se colher. E é a colheita que iremos presenciar na última parte da história. Para isso, ninguém melhor que Ewan McGregor, que depois fez outros bons filmes (Moulin Rouge, Peixe Grande), para pôr em evidência um personagem como Renton. Cabeça raspada, magricela, de cara pálida, o ator encarna um drogado que, no fundo, quer se regenerar, mas que virou refém das drogas. (No final, o roteiro deixa alguns pontos inconclusos a respeito da relação Renton-heroína no futuro: cabe-nos imaginar o pode ter acontecido)

Sem mensagens de fé ou moralismos, o filme é aflitivo, perturbador e asfixiante a ponto de nos deixar com a garganta presa durante e ao final da projeção. Mas talvez seja justamente esse o sentimento que as drogas causam e o motivo para o filme ter se tornado tão cultuado.

O que é normal

Na cidade de Antúrpia, localizada em algum ponto entre a Austrália e a África do Sul, em pleno oceano Pacífico, a comunicação assume formas peculiares. Trata-se de um povo comum, que vive com computadores, cidades relativamente grandes e grau de civilidade (isso existe?) que concorre com o sueco e o australiano.

As pessoas ali, sempre bem vestidas, trabalhadoras e cumpridoras de seus horários mais rígidos – para se ter uma idéia, o expediente comum começa por volta das 4 horas da manhã -, se comunicam diferentemente. Lá, ninguém responde diretamente as perguntas que fazemos. Se é que respondem a alguma coisa.

Logo de manhã – ou melhor, de madrugada -, Mr. Ramon sai de sua casa e anda duas quadras para chegar a sua empresa. Ele fabrica dvd´s para vendas no varejo. Assim que avista sua vizinha, a Senhora Gibbs, que trabalha com o marido em uma loja de eletrodomésticos, ele diz:
-Bom Dia Senhora Gibbs!
Ao que ela responde:
- São dez para as quatro.
E saem assobiando: ele vai a pé, enquanto ela entra no carro onde já se encontrava seu marido.
Ao chegar na empresa, Ramon abre as grandes portas da fábrica, adentra seu escritório, liga o computador e espera os funcionários surgirem. Tão logo Lílian, a empregada, aparece, já vai à cozinha e prepara um café forte para o patrão.
- Senhor Ramon, aqui está seu café matinal.
-Não sei nem qual é a pergunta. – responde o chefe, se é que isso é resposta para alguma coisa.
Ela sai, fecha a porta e inicia seus afazeres.
Os funcionários vão chegando e assumindo seus postos de trabalho. O garoto Ribbys, um jovem de 22 anos que sonha em ser o dono de uma empresa de computadores, diz a seus colegas:
-Gente, hoje vai ter uma festa massa em Partinhouse. Bebidas de graça. É aniversário de uma amiga. Vamos?
-Tudo bem comigo, e com você? – replica o colega mais próximo, enquanto outro, a seu lado, sapeca:
-Não está na hora do almoço?
- Quantos anos ela tem?
- A felicidade é uma refeição por dia.
Até que Ramon vai ver a quantas anda o trabalho na fábrica. Quando vê os três funcionários conversando, ele vai e diz triunfalmente:
- Aqui tudo pode acontecer, inclusive nada.
E o jovem Ribbys enaltece:
- A lama está por toda a parte. As cinzas da poluição entram em meu nariz como facas de gumes afiados.
E tudo volta ao “normal”, ainda que nunca tenha saído da normalidade.

Ao fim do dia, Ramon volta pra casa.
- Mulher, como você está? Como foi seu dia?
-Já tá saindo, Ramon. Espere mais cinco minutinhos, ok?
- A verdade se usa da mentira para continuar existindo.
- Não, querido. Acabei indo ao cinema.
- Tu não vai fazer o jantar?
- É... acho que vai chover amanhã...

Psicologia em mim

Eu, sozinho, ali sentado em um banco a céu aberto no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC. Lia atentamente um texto de filosofia, já que minha aula de tarde tinha sido cancelada. Do nada chega uma guria. Vestindo uma blusa rosa e discreta, ela vem com uma voz suave me perguntar se eu poderia participar de um experimento que ela está fazendo em Psicologia.

Solícito – e, cursando Jornalismo, entendo como devemos ajudar os outros (hahaha!) – lá vou eu para o laboratório de Psicologia, no 2º andar do campus do CFH.

- Mas antes eu preciso de mais um voluntário. De preferência do sexo feminino – diz a moça, que estava na 5ª fase de Psicologia. O nome dela eu já esqueci!

E, próximo à lanchonete, ela aborda uma menina gordinha, de cabelos louros e vestida de preto, perguntando a mesma coisa.

- Sim, mas quanto tempo vai levar? – diz a outra, aparentemente apreensiva.
-Ah, uns dez, quinze minutos, no máximo. É um trabalho sobre percepção de formas, a Gestault...
- Ta bom então!

Chegando lá em cima, entro na sala. Não deu tempo de ver bem, mas tinha dois caras sentados nas cadeiras do meio. Era uma sala meio branca, bem arrumada, com vídeo, TV e DVD na estante.

Tímido, me dirijo a uma das cadeiras e aguardo até que a futura psicóloga dê as primeiras instruções e mostre algumas figuras (uma mulher nova ou uma velha; dois rostos ou uma taça), até a última.

- Agora eu quero que vocês me digam qual a linha que mais se parece com essa – disse mostrando a reta que queria que avaliássemos.
- A letra B. – afirmou a guria loira.
- Ah! É a letra B, de certo. – disseram os dois guris, convictos.
Minha vez. A letra B era parecida, mas não tinha cara de ser igual a outra. Hum... Duas opções: ir por mim mesmo, pelo que eu realmente achava, ou seguir o grupo e não me comprometer.
- Me parece que é a letra A, mas eu não tenho certeza. – falei, com certo receio.

Daí a mulher guardou as folhas e foi retirando da sala as pessoas, na ordem. Assim que a menina loira saiu, eu perguntei, batendo os dedos na mesa, tentando ser simpático:

- Vocês dois fazem que curso? – aos dois rapazes.
- Biologia. – respondeu, acanhado, o que estava no meu lado.

Só podiam ser de Biologia. A feição e os cabelos não mentiam. Era característico, ao menos na minha opinião posterior.

- E ela também pegou vocês aí jogados pelo campus. – eu, agora tentando descontrair um pouco.

Mal tiveram tempo de dizer um “aham” pouco audível: a pesquisadora voltou e retirou da sala um, e, com pequeno intervalo de tempo, o outro.

Por fim só fiquei eu no aposento. Poucos segundos até ela voltar, séria. Fechou a porta e sentou na minha frente, colocando um papel entre nós.

- Pedro, eu tinha dito que esse era um teste de percepção, quando na verdade não é. É um trabalho de psicologia social. Aqueles que estavam com você eram atores, que fazem Psicologia comigo. Você foi filmado – disse apontando as câmeras nos cantos da parede - e gostaria da sua autorização para usá-lo como objeto de pesquisa.

Sentindo-me ludibriado, eu não pude fazer nada. Tive vontade de rir da minha cara de palhaço. Ora, como eu não percebi as câmeras na sala, os atores, a ordem em que sentamos, as figuras sendo mostradas e as opiniões deles? Aaaaahhh!!!

-Tudo bem, mas eu acho que não vou servir muito. Naquele exame das linhas eu respondi contra eles. – disse, assinando a autorização que ela pediu.
- Ah! Sem problemas. Isso tudo a gente vê depois.
Passei meu e-mail pra ela, a fim de que ela transmitisse o resultado da pesquisa que está sendo realizada com umas 20 pessoas.
Sem graça, deixei a sala, murmurando um simples “até mais”, ou algo do tipo, para os atores que ajudaram a me enganar.

Mas que foi engraçado, foi! E eles devem estar rindo até agora!

Groovy, baby!!!!!

Em 1997 um super agente secreto aparecia nas telas do cinema. Ele combatia o mal, tinha o sexy appeal que deixava as mulheres maluquinhas, possuía equipamentos apropriados para suas aventuras e tinha um bordão favorito: “Yeah, Baby, yeah!”. Austin Powers está de volta. Dois anos depois de sua estréia, ele volta para divertir espectadores loucos por um filme besteirol que parodia clássicos de aventura, como a série James Bond.

Nesse filme, Austin (Mike Myers) descobre que sua mulher é um robô. Depois de destruí-la, ele vai em direção a uma nova incumbência: recuperar seu Mojo que foi roubado pelo Dr. Evil (Myers de novo), agora com um novo ajudante, o mal educado Mini-Mim. Mojo seria a libido, a essência de Austin Powers: aquilo que lhe dá poder. Para recuperá-lo, ele volta aos anos 60.

A trama é simples de propósito. Seguindo o enredo dos filmes de ação-com-agentes-secretos, temos um vilão que quer fazer mal ao mundo e o herói que busca evitar o objetivo do vilão e recuperar o estado das coisas antes da perturbação causada pelo maligno.

Austin Power: O Agente “Bond” Cama continua com boas piadas, no mesmo estilo do filme anterior. As coreografias são incríveis, sobretudo aquela da abertura, sempre criativa.

Um dos méritos da produção, e que funciona muito bem, diga-se de passagem, é parodiar o filme anterior. Ali estão as melhores piadas, assim como nas distrações proporcionadas pela montagem do filme. A trilha sonora é apropriada e bem escolhida. O som característico invoca os “coloridos” anos 60.

A fórmula continua a mesma: piadas inteligentes, de linguagem (a genial Yeva Pracama, traduzindo para o português), humor negro (nem tanto quanto no primeiro), sexual e, por vezes, apelativo. E o talento de Mike Myers continua o mesmo. Ele representa os dois protagonistas, além de Fat Bastard – um milagre feito pela equipe de maquiagem do filme, que recebeu, inclusive, uma indicação ao Oscar. Os trejeitos de cada um são característicos e bem diferentes. Bem ensaiado, os personagens garantem bons risos – quando não gargalhadas.

De maneira geral, Austin Powers 2 garante a diversão. Superior ao episódio inaugural, esse filme, de ritmo mais ágil, garante a alegria de quem gosta desse tipo de entretenimento.

"O Colecionador"

Estou fazendo uma oficina de três dias sobre produção de vídeo. As aulas são ministradas pela cineasta Loli Menezes. Ontem nós tivemos alguns conceitos teóricos sobre a gramática cinematográfica e, hoje, fomos filmar parte de um documentário sobre livros e as relações das pessoas com esses objetos tão simbólicos.

Em um sebo – local onde se vendem produtos usados – encontramos um livro, ao acaso. Seu nome era “O Colecionador”. Loli entusiasmou-se de pronto: “Esse livro é muito bom! Tem até um filme sobre ele”. Ela, então, nos contou o enredo e nós três – Flávio, formado em Educação Física, Mariana, formada em publicidade e eu, estudante de jornalismo – compramos um exemplar.

É o poder da indicação. Se é bom para uma pessoa, pode ser bom para outra também.

Fui assistir ao filme Tudo sobre minha mãe com a esperança de vê-lo em espanhol com legendas também nesse idioma, mas o dvd só tinha legendas em português. Droga!
Tudo sobre minha mãe
Almodóvar tem um estilo peculiar de fazer filmes. Via de regra, suas obras são dominadas por uma parte técnica exemplar, com fotografia exuberante e destaque para cores fortes, sobretudo o vermelho e o amarelo, as cores da bandeira de seu país natal, a Espanha. A direção de atores é também bem feita, indo em direção a uma dramaticidade crescente e pulsante. Mais ou menos, é esse o cinema de Pedro Almodóvar, considerado o maior cineasta espanhol vivo.

Tudo sobre minha mãe conta a história de Manuela (Cecilia Roth), cujo filho Esteban, que vive se perguntando sobre o pai e que sonha um dia se tornar escritor, é atropelado e morre. Assim, Manuela sai de Madri e parte em direção à Barcelona, a fim de achar o pai do garoto e contar toda a verdade. Lá ela encontra Huma Rojo (Marisa Paredes), uma atriz de teatro de quem Esteban era fã.

Daí o enredo será levado por caminhos provocativos típicos do cineasta: travestis e suas relações com o mundo, por exemplo. Almodóvar avança lentamente em sua narrativa para um filme cujos desdobramentos ficam intrincados. A trama é complexa e a relação entre as personagens, acima de tudo, humana e dramática.

Tal dramaticidade é o mérito do filme, que trata do humano humanizando-o. Particularmente, acho desnecessário o despudor com que o cineasta trata alguns diálogos e passagens que, a meu ver, soam exageradas, como no momento em que Agrado diz: “meu pênis? Te mostro e te deixo lamber”. Mas esse erotização é, também, marca do cineasta.
Ganhador do Oscar de Filme Estrangeiro, é um filme difícil. A ação dramática se passa no interior das personagens e de suas relações. Ainda assim, é humano e não cai no fácil melodrama. Coisas de Almodóvar.

Revista Realidade (1966-1968)

Tive a oportunidade de ler, na hemeroteca do curso de Jornalismo da UFSC, a revista Realidade, que foi produzida mensalmente entre 1966 e 1968.

Essa revista, realizada pela editora Abril, foi um marco na história do jornalismo brasileiro. Uma linguagem inteligente, textos interessantes (em sua maioria, não-factuais, ou seja, não relacionados a fatos; matérias não presas aos assuntos efêmeros da notícia) e jornalistas brilhantes fizeram Realidade se tornar uma inovação e ser lembrada até hoje.

A revista prioriza bastante o texto escrito. Além disso, ela é bem extensa (as reportagens tem várias páginas e são muitas para o padrão atual), ainda para uma publicação mensal. De qualquer forma, trata-se de um texto que te prende da primeira à última linha, sobretudo pelos aspectos irreverentes, como rimas e boas sacadas.

Li um texto de Hamilton Ribeiro, chamado “De Agrado também se morre” (Agosto de 1966), sobre uma série de assassinatos em Uberaba, Minas Gerais. As mortes eram decorrências de envenenamento que um grupo de quatro mulheres praticava dando agrados (doce de mamão, feijoada, bolinhos) a seus desafetos. A abordagem é cativante, e Ribeiro possui um texto sublime, como no trecho:
“Numa feijoada de sábado, lá foram os três, famintos e inocentes, comer gostoso pela última vez”.

Outro texto primoroso é o de Carmen da Silva em “O Conflito de Gerações” (Setembro de 1967). Ela trata da dicotomia jovens x velhos, mostrando que a história se repete desde, provavelmente, o tempo das cavernas: o novo querendo se sobrepor ao antigo, formar novos valores, novas convicções e diferentes modelos de vida. Os jovens são radicais: ou oito ou oitenta. Sua rebeldia põe em questão e discute as estruturas vigentes. Ainda assim, é um assunto que dura por décadas e tem o final parecido: ou se adapta ou continua guerreando, com clareza, inteligência e perspicácia, como fazia Bertrand Russel, um importante ativista político liberal, filósofo popularizador da filosofia e matemático. São coisas que a Realidade ensina...

Me pegaram também!

Eu sempre pensei que séries de TV eram melhores do que novelas apesar de terem o mesmo efeito nocivo. Não haveria de ser “saudável” alguém que passa parte de sua vida assistindo a esse tipo de televisão (se você perde um, dois, três, quarenta capítulos ainda consegue acompanhar perfeitamente bem). Eu já assisti a novelas inteiras antes e sei que elas são dotadas de previsibilidade e que a intenção dos realizadores é te deixar preso à tela pelo maior tempo possível enquanto eles ganham dinheiro. Não é assim? Pois é. Para mim, as séries eram quase a mesma coisa, com a vantagem de serem mais bem elaboradas, divididas por temas (coisa que não ocorre nas novelas, que são um “mix” de vários gêneros). Mas uma série me fisgou de forma que não consigo mais abandoná-la. Trata-se da história de um grupo de pessoas que fica preso em uma ilha onde coisas misteriosas acontecem a todo o momento. Obviamente, estou falando de Lost.

As novelas são exibidas diariamente. As séries podem ser também, mas é comum que sejam apresentadas uma vez por semana. Antes de conhecer Lost, eu tinha essa discriminação em relação a tais programas. Malhação é um horror: previsível, mal feita e excessivamente comercial (nunca agüentei ver o guri bebendo coca-cola com close no rótulo da lata, por exemplo), assim como outras novelas que, quanto mais você assiste, mais nada acontece de novo. Viramos escravos, uma vez que os programas são feitos de propósito para te capturar e não soltar mais.

Eu tenho convicção de que os produtores ficam todos sentados em confortáveis poltronas bebendo whisky em confraria enquanto dão risadas por terem roubado mais um tempo da vida das pessoas. Seriam “sugadores de tempo”. Ora, já tentou se perguntar o que acontece de significativo em um único episódio. Muitas vezes a resposta é: nada. Sim, nada acontece de importante. Foi só um jeito de te enrolar um pouco mais na programação.

Isso faz parte do jogo. Normal. Depende de ti sair do ciclo vicioso dos programas. Assim foi ao assistir a um capítulo de Lost. Estava deitado na cama de meus pais, com a minha mãe. Começou a série, ela me explicou um pouco sobre a trama e eu acabei acompanhando, descompromissadamente. No primeiro intervalo, eu lembro de ter dito que odiava séries porque elas te prendem, te viciam e muitas vezes você não ganha nada com isso. Apesar desse meu pensamento, vi aquele episódio até o fim. E no dia seguinte também; e no outro, e no outro, e no outro, e já era. Tinha sido pego.

O fato de eles te enrolarem é o pior. Algumas séries duram anos. Lost está em sua terceira temporada. Assisti a primeira pela metade, a segunda inteira (santo computador, santa internet!) e a terceira começou a ser transmitida agora. Suponho que acabe por aí, senão terei de ficar mais tempo preso nas garras dos realizadores para conhecer o final. Espero que, ao contrário de minhas experiências anteriores, eu ganhe alguma coisa assistindo a tantas horas de televisão. Um pouco de conhecimento, quem sabe, em vez de alienação.

Alice in Wonderland

Li “Alice no País das Maravilhas”, escrito há muito tempo (século XIX) por Lewis Carrol. É uma obra que, a despeito de poucos terem realmente lido o livro, todos conhecem, graças à tradição das estórias contadas de orelha em orelha, e ao desenho homônimo dos estúdios Disney.

Acontece que não é uma estória para crianças. Eu mesmo, quando garoto, odiava o desenho de Alice. Lá, nada fazia o menor sentido. Era chato, monótono e hermético.

Hoje eu vejo que é um livro cheio de passagens filosóficas que, como todo bom trabalho de filosofia, busca questionar e fazer com que o leitor questione-se a si mesmo.

Alice é uma garota bonitinha, loirinha, fofinha que caminha pelo bosque e vê um coelho com um relógio. E ela segue o mamífero apressado em direção a toca. Ela entra na toca do coelho rumo a um mundo diferente. Um mundo mágico. O mundo da fantasia.

É uma busca dentro dela mesma. Todo aquele “país” lhe é estranho. Falta sentido. É o “eu” sem identidade. É a busca por algo que nos faça descobrir quem somos. “Conhece-te a ti mesma”.

O final só pode ser uma brincadeira do autor, fingindo uma simplicidade apenas aparente em elementos tão complexos (ou excessivamente simples, dependendo do ponto de vista). Um sonho, por mais nonsense que seja, deixará marcar e fará pensar. Sempre faz pensar, mesmo que por pouco tempo.

Exemplo: o diálogo com a lagarta (que sofrerá metamorfose em breve, assim como a mudança a que Alice também será submetida – ou não - depois da experiência fantástica):


- Bom, quem sabe a sua maneira de sentir talvez seja diferente – disse Alice –, mas o que sei é que tudo isso pareceria muito esquisito para mim.

- Você!- exclamou desdenhosamente a Lagarta. – E quem é você?

Isso levava tudo outra vez ao início da conversa. Alice já estava meio irritada com os comentários tão lacônicos da Lagarta. Empertigou-se disse com a maior seriedade: - Acho que a senhora deveria me dizer primeiro quem é.

-Por quê?

-Essa pergunta era também desconcertante.



Quem sois vós? Assim como Alice, nós teremos que descobrir.

O filme “Tudo O Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar”(Everything You Always Wanted to Know About Sex But Were Afraid to Ask, EUA, 1972), dirigido por Woddy Allen sofre do problema que geralmente ataca produções que possuem várias histórias reunidas: a segmentação em capítulos não forma um todo regular para um resultado final, no mínimo, satisfatório.

São sete histórias pequenas que tratam de responder a perguntas relacionadas a sexo, como “afrodisíacos funcionam” ou “o que é sodomia”. A maioria dessas historietas é ruim na medida em que caem na comédia pastelão e apelativa (uma grande mama que escapa de um laboratório, o bobo da corte que tem de traçar a rainha a pedido do fantasma de seu pai, o pai de família que se traveste de mulher, etc...).

Uma coisa não falta ao filme: bom-humor. E só com muito bom humor mesmo é que se pode encarar o projeto. Uma ou outra idéia se salva pela originalidade, como o corpo humano que funciona como uma grande engrenagem, na última e melhor parte.

No geral, um horror, tchê!

Balanço bruxólico, de Franklin Cascaes

Estou escrevendo uma matéria sobre bruxas. Bruxas de Santa Catarina.

Elas são diferentes das bruxas a que a maioria das pessoas estão acostumadas por serem resquício de uma tradição folclórica dos imigrantes açorianos que vieram colonizar a Ilha de Santa Catarina.

São seres do mal. Dividem-se em dois tipos: as terráqueas, que são bruxas porque querem ser (escolhem o caminho de Satanás e gostam de serví-lo), e as espirituais, que estão predestinadas a trilhar o maligno caminho. Segundo a lenda, a sétima filha de um casal que não produziu varões, será bruxa.

Contra elas só valem o dente de alho fechado, um crucifixo e objetos benzidos por água benta, e o signo-de-Davi (a estrela de Salomão, de seis pontas, o "sino-saimão").

Elas fazem mil maldades. Trançam nós quase impossíveis de desatar no rabo e na crina de cavalos, além de surrarem-lhe o lombo até sangrarem, unicamente para ver seus donos aflitos. Sugam sangue e energia de crianças para provocar a morte delas. Fazem rituais bruxólicos atemorizantes. Invadem a vida de pescadores e pessoas simples, fazendo maldades por onde quer que passem. Separam casais matrimoniados e noivados para verem a desgraça na família. Adentram as casas das pessoas pelo buraco da fechadura.

E atenção! Se você vir alguma delas voando em pleno luar na Lagoa da Conceição, cuidado: elas estão à solta!

MiMiMiX

Este blog é uma tentativa de praticar textos para a linguagem da internet e, também, de aprender com todas as ferramentas da interface eletrônica. Busco, ainda, bons textos e boas leituras, além de "diversão, diversão, muita paz & rock´n roll"!!!!!

Agora, uma música cuja letra me parece deveras interessante:

Iê, Iê

Eu aprendi que temos que nos multiplicar e não nos dividir
E que também temos que reagir, e para isso devemos nos unir
Iê, iê... Iê, iê... Iê, iê

E pra crescer, devemos nos ajudar/ Pra podermos conquistar é proibido desistir
Temos também o dever de pensar e de nos expressar, é proibido proibir
Iê, iê...

E ser quem somos, ir atrás de nossos sonhos, viver com intensidade e ter coragem pra seguir
Lutar por tudo aquilo em que acreditamos, saber que um dia certamente iremos conseguir
Iê, iê...

Nos demos as mãos, nos somemos como irmãos, vamos lutar para mudar
Todos juntos... Ensinando e aprendendo... Evoluindo o Pensamento e a cabeça no lugar


Se não estamos bem, vamos buscar fazer uma nova história
Refletindo além, qual é o mundo, porém, que nossos descendentes vão encontrar?

E a evolução se dá em nossas mãos e em nosso modo de compartilhar
Pois se nos unirmos, ajudando um ao outro, todos os feitos vamos realizar!
Iê, iê...
Iê, iê...

(...)