Disco sem preço



Eles provaram que não é preciso de gravadora para lançar um disco de sucesso. Em seu sétimo álbum, a banda inglesa Radiohead inovou na forma de comercializar seu trabalho. In the rainbows será lançado no dia 3 de dezembro como um box, contendo as músicas em CD, um disco duplo de vinil e um CD multimídia com faixas adicionais, fotos e letras. Mas qualquer um pode ter acesso às dez músicas do disco baixando pela internet no site da banda. Partindo da idéia “it´s up to you”, cabe a quem faz o download estipular quanto quer pagar pelos arquivos digitais. É você quem coloca o valor que acha que o CD vale, mesmo que seja zero libras.

Musicalmente falando, In the Rainbows preserva as características do Radiohead e mantém a personalidade da banda. Está tudo ali: as letras depressivas, os arranjos melodiosos, além dos elementos eletrônicos e a multiplicidade de sons simultâneos. Mas não é fácil de ser digerido. Não há singles, as músicas são fragmentadas, há ruídos e barulhos que nos obrigam ouvir mais de uma vez antes de sermos capazes de formular qualquer opinião.

As sonoridades não convencionais provocadas por sintetizadores, saindo do básico vocal, guitarra, baixo e bateria, deixam o álbum mais interessante. A propósito, o Radiohead decidiu disponibilizar no download todas as faixas porque consideram que ficar ouvindo músicas isoladas desvirtua a idéia de seqüência. Afinal, o CD foi feito para ser ouvido inteiro, na ordem em que as canções estão. Esse é purismo do Radiohead. Essa é a arte de fazer música independente de ter uma gravadora ou não.

O Contrato




Depois daquele dia, estabeleceu-se um acordo tácito entre aqueles dois mundos. Era a quarta ou quinta vez que se viam, que conversavam, que riam juntos. Ninguém forçou a barra. Ela, calma e boa de papo, olhava diretamente para os olhos dele. Ele, por sua vez, não tinha más intenções, nem primeiras, nem segundas e nem terceiras. Era simplesmente conhecer gente nova e fazer amizades.

Mas aquele último encontro selou o pacto. Só com o pensamento, com o sentimento, com a emoção, guardaram o beijo para a próxima vez. Nem precisariam falar nada. O encontro macio dos lábios seria o bastante para dizer tudo sem nada. O gesto é comunicação. O silêncio também.

A relação assumiu a característica do duelo calado. Vieram os joguinhos; o fazer de conta; o não ver que o outro estava presente; o desviar de olhos; e conversas rápidas, apressadas, pelo corredor, entre uma tarefa e outra do serviço cotidiano. Tão atarefados estavam que ele não dava bola para ela e ela não se interessava por ele. Mentira! Interessar interessava. Faltava coragem em admitir. Ele, idem. O acordo era quieto, frágil em suas bases não-verbais. Os jogos matam qualquer relacionamento. Por que têm de existir? Orgulho? Vaidade?
















Uma semana. Duas. Três. Nada de nada. As conversas cada vez mais rápidas, os olhares furtivos desviados assim que o outro levantava os olhos. Risinhos nervosos, tensos, fingindo não rir do que o outro falava, mas de uma piada que acabara de se lembrar. O fim.

Enfim, uma festa com o pessoal do trabalho. Ambiente descolado, alegre, feliz. Os copos de cerveja rolando. Dourados e com espumas. Brilhantes. Como quem não quer nada, depois de certo nível alcoólico no sangue (nada muito preocupante), ele chega junto. Tudo bem? Ela está bem, e responde-o aos ouvidos:

- Não faz isso – sussurra, falando uma coisa, querendo outra.

Ele chega mais ainda. As assinaturas do acordo se mantêm. Invisíveis. Caladas. Até se encontrarem no tão sonhado beijo macio, suave, ébrio. Ligeiramente ébrio.

Ninguém disse a ele que o acordo tinha prazo de vencimento. Acabou depois daquela noite, quem sabe naquela noite mesmo, logo após voltarem do mundo do beijo bêbado.

Nas outras festas, cada vez mais freqüentes para “alegrar” e “socializar” os funcionários, ela mostrou que era espécie de agiota e financiadora. Não adianta notas promissórias. Ela não deve nada. Não era só com ele que mantinha acordo, mas com muito mais gente do que se poderia imaginar. Acordos tácitos com vencimento em um dia. O prazo final. Depois disso, venceu. Não vale mais. Ela venceu ou venceu ela?


No no no no

Em uma casa de jogos de Londres, dois jogadores se destacam: uma mulher morena, de vestido vermelho e cabelos cheios amarrados por trás da cabeça, tipo coque, e um homem de trinta e poucos anos, usando smoking.
- Admiro sua coragem, senhorita... – ele diz. A câmera exibindo as mãos dele pegando um cigarro.
- Trench. Sylvia Trench. – ela se apresenta, olhando para a mesa – Admiro sua sorte, senhor...
Com o isqueiro, acendendo o cigarro:
- Bond. James Bond.

A música-tema de fundo, o ambiente esfumaçado, o olhar lateral à câmera. 1962. É a primeira aparição do espião inglês nos cinemas. Quem o interpreta é o ator Sean Connery. O filme, 007 Contra o Satânico Dr. No.

Criado pelo escritor Ian Fleming nos anos 50, James Bond é um agente secreto, também conhecido pelo código 007 (o duplo zero significa que ele tem licença para matar), que trabalha no serviço de espionagem e inteligência britânica. Nas palavras do autor, que foi agente do serviço secreto britânico durante a Segunda Guerra Mundial - experiência significativa para a caracterização de seu personagem mais famoso:

“James Bond tem 1,82 metro de altura e trinta e poucos anos. É moreno, de uma beleza cruel e olhos azul-acinzentados claros”.

Adaptá-lo à tela grande logo se mostrou um desafio. Para o papel foram cogitados diversos atores: Roger Moore – o preferido de Ian Fleming estava comprometido com uma série de televisão -, Max Von Sydiw, Cary Grant, Trevor Howard, Rex Harrison. O escolhido foi o pouco conhecido ator escocês Sean Connery, o eterno 007, para a maioria dos fãs.

Bond vai à Jamaica para investigar quem estava interferindo nos lançamentos de mísseis norte-americanos. É assim que ele chega a Dr. No (Joseph Wiseman), um cientista perito em física nuclear que chefia uma organização criminosa em uma ilha particular no Caribe. Bond conta com a ajuda de um agente da CIA, um nativo e de Honey Ryder (Ursula Andress). Saindo da água do mar, com cabelos loiros molhados e biquíni branco, ela surpreende-se com o homem que a observa (“Quem é você? Fique onde está!”). O surgimento da atriz no filme é um dos momentos de destaque na filmografia de mais de vinte filmes que o agente secreto já protagonizou.

A direção de Terence Young – que trabalhou em outros três filmes de 007 - exibe cortes secos nos momentos de ação. A mistura imagem e áudio provoca, em muitas cenas, o efeito desejado, como na seqüência em que o herói tem que enfrentar uma tarântula: música atingindo picos agudos e closes no rosto suado, junto com imagens da aranha subindo, provocam aflição.

A produção, de orçamento de cerca de um milhão de dólares (para os padrões da indústria cinematográfica, uma bagatela) estourou nas bilheterias, transformando Sean Connery em astro e James Bond em ícone da cultura pop. Os filmes que se seguiram, a partir de 007 Contra o Satânico Dr. No, seguem a fórmula que deu certo. 007 tem carisma, charme e elegância. Atributos que contrastam com a personalidade violenta – em uma cena ele mata sem dó um capanga desarmado de Dr. No -, as atitudes machistas – mulheres vistas como objeto sexual – e o cinismo.

Na larga filmografia, que se estende por diversos períodos históricos, os vilões são sempre inimigos do Ocidente (Dr. No é chinês). Os personagens, inclusive o herói, são estereotipados; as mulheres são todas beldades e os filmes, puro entretenimento. A história é um acessório – assim como os gadgets tecnológicos de Bond – para o divertimento do espectador. A eficiência de 007 Contra o Satânico Dr. No em divertir com qualidade.

(blog O Reverso)

Manifesto: "R$ 2,40 é o quilo da tainha"

Gritos, pessoas correndo, tiros, caos. Desde segunda-feira manifestantes, em sua maioria estudantes, tanto das universidades quanto dos colégios, escolas e cursinhos, saíram às ruas do centro de Florianópolis para manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus, que desde o último domingo passou para R$ 2,40, a mais alta do Brasil.

Apitos, tambores, cartazes e gritos de guerra: “Vêm, vêm!/ Vêm pra luta, vêm!/Contra o aumento!”; “Ei, policial! Me proteja, não proteja o capital!”.

A polícia organizada faz barreiras para evitar excessos, sobretudo no que diz respeito ao fechamento de ruas. “Estamos aqui para garantir a manifestação do pessoal e a segurança de todos”, diz capitão Reus, da Polícia Militar.

Os manifestantes não partilham de idéias homogêneas. Alguns querem simplesmente protestar, outros preferem fazer festa (dançando, bebendo e até uma rodinha de futebol); uns estão ali em posições políticas (como dois guris com a bandeira do PSTU sobre os ombros), e outros, ainda, desacatam policiais, seja atirando pedras ou rojões, seja com palavras ofensivas. Tem de tudo.

O confronto mostra-se inevitável. Quando os estudantes tentam fechar uma das ruas principais para gritar suas reivindicações (a maioria acha que esse é o único modo de realmente dirigir a atenção da população para o movimento), a tropa de choque usa a força. Alguém joga um rojão e a PM devolve com balas de borracha, bombas de efeito “moral” e spray de pimenta.

Quinta-feira, a manifestação, em seu auge, reuniu, segundo a PM, cerca de 3,5 mil pessoas: a maior da semana. Houve confronto e o que vimos em grande parte dos jornais e na televisão foi algo comum no jornalismo: a mudança de foco. O fato deixou de ser a manifestação para ser a confusão causada pelos estudantes. A idéia é de que eles são baderneiros, arruaceiros, bandidos. Depredaram um ônibus e um ponto de parada, mas será que é o que faz a maioria dos estudantes e dos manifestantes, ou trata-se de caso isolado? Precisa-se investigar. A generalização corre o risco de não ser verossímil.

No telejornal Bom Dia Brasil, logo depois de notícias do Rio de Janeiro, sobre o tiroteio entre traficantes e policiais, foi ao ar a nota coberta: “Em Florianópolis, o vandalismo tomou conta das ruas...”, que termina com a imagem do rojão que algum dos estudantes (ou não) arremessou contra o cerco da PM.

Mais uma vez, muda-se o foco do acontecimento. Nada foi dito sobre o motivo da reivindicação dos estudantes, sobre a tarifa mais alta do país, o sistema de ônibus de Florianópolis. Naquele telejornal, nada, absolutamente nada, sobre a enfermeira que levou um tiro de borracha na perna ou sobre a estudante que, passando em frente ao cerco policial, levou, direto nos olhos, uma jato de spray de pimenta, espirrados por um fardado. Ou ainda quem sofreu ferimentos por causa dos estilhaços das bombas de efeito “moral”.

Na matéria feita sob o ponto de vista oficial: “quatro policiais foram feridos e três manifestantes foram detidos por agressão e dano ao patrimônio público”. Mais uma vez os estudantes são perturbadores da ordem estabelecida. Subversivos?

Para esse tipo de jornalismo, o que mais importa é a superfície em vez do conteúdo mais aprofundado.

Veja o Jornalismo

Costume comum nas universidades é o hábito da discussão. Na faculdade de Jornalismo, sempre tem alguém (talvez a maioria) que busca a profissão como forma de interferir no mundo, ajudar a tornar as coisas melhores ou mais justas, fazer alguma diferença. Comum, também, é a crítica aos grandes veículos de comunicação, em que a campeã das revistas semanais de informação é Veja.

Na edição dessa semana (Edição 2007 .9 de maio de 2007), a revista traz uma matéria que trata da relação entre governo e as centrais sindicais (A triste face do neopeleguismo). Logo na abertura, percebe-se o tom da “reportagem”. Depois de falar das ausências do presidente Lula nas festas de 1º de maio e afirmar que, na última, não houve nenhuma crítica ao governo – críticas que historicamente marcam as festas do Dia do Trabalho -, a revista conclui:

“Portanto, a explicação mais lógica para a ausência de Lula talvez seja outra: é desnecessário lutar pelo apoio dos sindicalistas e das centrais sindicais. Eles já estão, quase todos, aninhados no bolso do governo.”

A matéria fornece dados informando a quantidade de dinheiro que o governo do PT enviou à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e à Força Sindical. Compara com informações do governo Fernando Henrique Cardoso, e, logo em seguida:

“A diferença é que o presidente Lula, além do dinheiro e da sua natural proximidade com o meio sindical, no qual começou a construir sua vida pública, ofereceu aos membros da elite sindical o que eles nunca tiveram antes: cargos no governo.”

A verdade da revista é única e universal: Lula deu cargos no governo para membros da elite sindical. A acusação está aí. Cadê as provas?

“Estima-se que a CUT, desde que Lula tomou posse, tenha preenchido cerca de 1 000 cargos de confiança no governo federal. Em julho de 2005, essa relação foi coroada com a entrega do Ministério do Trabalho ao então presidente da CUT, Luiz Marinho.”
(...)
“Com isso, o governo, que já absorvera a CUT, engoliu também a Força Sindical. O atual presidente da entidade, o deputado Paulo Pereira da Silva, vive em Brasília com uma lista de indicações para cargos públicos embaixo do braço. Tem tido sucesso na sua missão.”


Sobre a distribuição de verba às centrais sindicais:

“A medida só não foi anunciada ainda porque uma central menor, a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), não gostou do critério de distribuição segundo o qual os sindicatos indicariam as centrais para as quais querem que o dinheiro seja destinado. CUT e Força Sindical, como são grandes, acham o critério justo.”

Eles acham o critério justo? Verifiquemos, então, os entrevistados pela revista. Vamos ver. O único é o professor de sociologia do trabalho da Unicamp Ricardo Antunes, autor de nove livros sobre trabalho e sindicalismo, que conclui "Isso é o neopeleguismo do social-liberalismo. É um pouco mais sutil, mas é farinha do mesmo saco."

A matéria acaba sem nenhum contraponto, nenhum compromisso em escutar as pessoas envolvidas no processo. De acordo com o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Elias Machado,a revista volta a uma prática antiga de jornalismo. “A Veja reintroduz, em pleno século XXI, uma prática jornalística do século XVII, que é o jornalismo de tese e opinião”.

As opiniões de um grupo poderoso, como o que controla a revista Veja, são difundidas nas matérias jornalísticas da revista. Agora, eu pergunto: isso é Jornalismo? As discussões não podem só ficar nos corredores da universidade.


Sem entrevista, mas com autógrafo

Caco Barcellos veio para Florianópolis. O motivo, uma palestra sobre mídia e violência na Assembléia Legislativa do Estado (Alesc).

Na véspera, fiquei em casa lendo antigas entrevistas, algumas bobagens jogadas na rede e elaborei algumas perguntinhas. O objetivo era fazer uma entrevista ping-pong com Caco, apesar de eu nem sequer estar inscrito no evento (já se tinham esgotado os lugares no auditório).

Com nada garantido, mas alguma força de vontade, chego à Alesc mais ou menos duas horas antes da palestra. Vejo o lugar, observo um pessoal do SBT entrar. Subo uma rampa que dá acesso ao auditório. Volto. Tento subir a outra rampa. Por onde Caco Barcellos vai subir? Preciso falar com ele antes da palestra. Continuo subindo, quando:

- Ei, menino! Vem aqui! Você não pode subir aí.
- Não vai ser aqui a palestra do jornalista Caco Barcellos?
- Vai. Você está inscrito?
- Não. Eu faço Jornalismo na Federal. Vim aqui porque queria bater um papo com Caco Barcellos. Onde fica o pessoal da imprensa?
- Ah, ele não vai dar entrevistas. A Globo não permite. Não está no contrato.

Frustrado, vejo minha entrevista indo embora, assim como minha chance de assistir de perto o evento e, quem sabe, ganhar um autógrafo em meu livro Rota 66, escrito por Barcellos.

Fico ali. Vejo o tempo passar. Uma agitação. É o pessoal do credenciamento. Converso com duas senhorinhas. Digo que não consegui vaga. Uma delas conversa com a amiga, integrante da Escola do Legislativo, entidade organizadora da palestra. Vestindo uma blusa verde-limão, esta diz que o filho, que está inscrito, não vai comparecer, mas mesmo assim não pode me dar o ingresso. Me concede uma esperança, ao menos:

- Fique aqui do lado que eu vou ver...

Fico lá. As pessoas chegam, assinam e pegam o convite. Ela olha para mim. Vira o rosto e, rapidinho, me passa um convite. Pego e saio rápido em direção ao auditório.

Cerca de 500 pessoas no recinto quando Caco entra e vai falando sobre o papel declaratório na imprensa atual: alguém denuncia e a imprensa cai logo matando, sem investigar e sem respeito para com os acusados.

Algo que me marcou foi a afirmação convicta contra repórteres que vão, digamos, comprar drogas com uma câmera escondida. “Esse repórter também devia ser preso. O trabalho dele é ir lá, filmar a realidade, investigar, e não induzir pessoas a comprar, mostrando como é fácil...”

A palestra se desenrola, com algumas matérias de TV para explicar alguns pontos de vista, alguns com conteúdo um tanto perturbador. “Ás vezes, temos que falar de coisas que não são confortáveis”

...

É, temos que ajudar a mudar isso tudo.

...

Logo que acabou, fui atrás do jornalista para conversar sobre a entrevista, mas vi que ela não seria possível. “O Caco vai embora amanhã às 6h da manhã”, disse uma das secretárias. A entrevista não vai rolar. Os olhos abatidos, cabelos grisalhos, aparência cansada. Pedi um autógrafo, que foi escrito com minha caneta na folha de rosto do livro, em letras ininteligíveis, tais como a de um médico, e tão feias quanto as minhas: “Para Pedro, muito obrigado pelo interesse no meu livro. Abraço forte. Caco Barcellos. Floripa, 23.04.07.

Não consegui a entrevista, mas ganhei o autógrafo!

Todo, todo...

Ará!
Elogios são estranhos.
Acabei de receber um. Daqueles proferidos meio sem querer, de "rabeira".
Agora estou todo ieeis. Ahahaha!
Se as pessoas soubesse o quanto certos elogios podem contribuir...
O elogio, depois eu conto!

Doidera no MSN

Sábado de noite, alguém me adiciona no msn. Esse e-mail eu não conheço! Quem será? Pergunto pra um amigo meu se ele conhece. Também não. Arrisco uma conversa com a pessoa:

e aeee!
olá!
blza ae??
maravilha! e aí?
td na pax!!!!!
que bom!
Novidades?
nenhuma demais, e voc~e?
Acho que nada.....
Vai fazer o que hj??

ficar em casa mesmo... não estou passando muito bem... e você?
ñ sei ainda, mas acho que tmb vou ficar em casa...
O que aconteceu contigo?

nada demas, um pouco de enjoo e tontura, só achei mais seguro ficar em casa
mais seguro? Hehehe!! Tá certo!!
é, uai, já pensou eu desmaiando pelas ruas da cidade... nada bom isso

Hum, deve ser mineira pelo "uai".

e vc, por que em casa sábado a noite?
Hum... fui na festa ontem, e hj a galera foi pra uma formatura, mas eu detesto festas de formatura... Daí, sei lá. Tenho tmb que escrever uma reportagem pra amanhã... AAAAA!
por que não gosta de formatura?
reportagem para amanhã sobre o que? (se eu estiver atrapalhando avisa)
Várias coisas de q naum gosto... as pessoas, as musicas, as danças, as roupas, sei lá.... Odeio...
Ahuaha! Não. Tu não está atrapalhando nada.... Relax!
eu adoro formaturas, festas de quinze anos, casamentos... tem cada figura interessante nessas festas. adoro.
É, isso tem mesmo...

Cada vez aumenta o mistério. Tento apelar para o senhor Orkut:

Ei, eu não tenho vc no orkut, tenho?
acho que não... é Mariana Imbelloni Braga
Tá, vou ver....

Graças ao "site de relacionamentos", com a ajuda de um amigo, desvendo o segredo: é uma caloura do curso.

Ah, e a reportagem é sobre açaí, esqueci de dizer.
Querida, vou ter que sair agora, depois a gente se fala, bele?? Bjs e bom sábado!

bom sábado! e pode deixar que te adiciono no orkut...
bom sábado! e boa sorte com o açaí!
ahahaha! Valeu!!

Coisas da internet...




AAAA!

Detesto viagens. Essa coisa de ter que sair de um lugar e ir para outro. Não sei, mas fico meio triste. Por onde eu passo – de onde saio – deixo pessoas pra trás. Saudade. Viajar é um saco.

Fernanda

A perna direita balançando ininterruptamente. O olhar demonstra tédio. A boca se abre em um bocejo. Impaciência.

Abaixa as mãos, tira algo da bolsa. O celular.Que horas são? Ainda? Outro bocejo. Volta a mexer na bolsa. Aula chata? Pega um papel, vira, olha, lê. É o programa de ensino.

Blusa vermelha com flores e folhas brancas. Guarda o papel. Não entra na bolsa. Tenta de novo. Consegue. O celular. Avançou pouco tempo desde a última espiada.

O olhar longe. Distante da sala de aula, afastado do professor barbado, que fala, fala, e fala.

A caneta vermelha sobre um caderninho. Não é tocada já faz alguns minutos. O professor fala, fala e fala. Nada para anotar.

Alguém chega. Abre a porta. Entra na sala. Beicinho. Olhos petrificados. Alguma idéia? Pisca uma, duas, três vezes. Olhadela para o professor.

A bolsa sobre as coxas. Apóia a cabeça na mão direita. Pára. ... Pega a caneta vermelha. Faz um risquinho no caderno. Uma flor, talvez? Olha de novo no celular para ver as horas. E aula continua...

Pequena Miss




















Filmes de pequeno orçamento, via de regra, têm poucas chances de sobreviver no mercado de cinema, ainda mais no grande circuito cinematográfico que começa em Hollywood e, de lá, se espalha pelo mundo. Mas, felizmente, há exceções. Afinal, um gordo orçamento não garante um bom filme.

Little Miss Sunshine é um caso típico de filme barato – para os padrões da indústria – que se sobressaiu e conquistou espectadores e a crítica. Com um orçamento de US$ 8 milhões, esse projeto é um exemplo de luta e determinação. Os realizadores demoraram cinco anos para finalizar o filme, justamente por problemas financeiros. Mas a espera valeu a pena: Little Miss Sunshine arrecadou cerca de US$ 50 milhões apenas nos Estados Unidos.

Os diretores estreantes Jonathan Dayton e Valerie Faris – pelo roteiro original de Michael Arendt – contam a história de uma família norte-americana. O pai, Richard (Greg Kinnear) tenta lançar um livro de auto-ajuda através da técnica “9 passos para o sucesso”. Para ele, todas as pessoas do Universo se dividem em dois grupos: os vencedores e os perdedores. A mãe, Sheryl (Toni Collette), é a mediadora dos temperamentos à flor da pele que toma conta dos membros da família. O avô (Alan Arkin) usa drogas e só pensa em mulheres. O tio, Frank (Steve Carell), é homossexual e vai morar com a família Hoover depois de ter tentado o suicídio. O irmão mais velho, Dwayne (Paul Dano), que faz voto de silêncio até conseguir se tornar piloto da Força Aérea Americana. E, por fim, a pequena Olive (Abigail Breslin), a caçula. A história vai unir a família rumo a um concurso de beleza no qual Olive tem o sonho de participar: o “Pequena Miss Sunshine”.

Para isso, eles vão pegar uma kombi e atravessar os Estados Unidos, dirigindo até o destino final. Nessa jornada, quem ganha destaque é, justamente, Olive. É ela quem une todas as pessoas da família e ela todo mundo respeita. É o poder da filha caçula.

As brigas são freqüentes, mas nada se compara ao drama de Dwayne. Usando camisetas do tipo “Jesus estava errado”, o garoto usa cabelos quase tapando os olhos e odeia tudo, inclusive a própria família. O não-falar dele é angustiante, pois sabemos que ele tem muito a dizer e não diz. Pior, ele vai guardando sentimentos tão fortes que acaba se corroendo por dentro. É aí que surge o talento de Paul Dano (injustamente não indicado ao Oscar). Toda a angústia e rancor do personagem são passados ao espectador, de modo que não condenamos o garoto por seus atos de ódio, mas desejamos urgentemente que ele se recupere, solte aquilo que sente. Temos vontade de gritar por ele e isso nos causa aflição, sobretudo quando o garoto anota em um bloco de notas aquilo que deseja comunicar. Como na cena em que, percebendo que a mãe começa a chorar ele simplesmente escreve no bloco “vá abraçar a mamãe” e mostra para a irmã. Ele, que estava ao lado da mãe, é incapaz de abraçá-la ou demonstrar um gesto de afeto por achar que aquilo seria um gesto de fraqueza de sua parte.

O filme é daqueles que valorizam muito a interpretação. Assim, os atores têm matéria-prima farta para desenvolver seus personagens, o que o fazem com eficiência. Mas o grande destaque fica mesmo por conta da pqeuena Olive. Abigail Breslin a interpreta com tamanha doçura e carisma, que dado momento da projeção nos vemos naturalmente torcendo para ela e nos emocionando com isso. A garota une a família Hoover e também une o espectador com o filme.

Há apenas um aspecto que destoa do resto da produção. No final, o que acontece com Dwayne não é coerente com o personagem que fomos conhecendo no decorrer da trama. Ele vai evoluindo e se transformando, mas depois parece que o roteirista se entrega à simpatia que o filme adquire e esquece de dar um contorno lógico ao personagem.

De qualquer forma, Little Miss Sunshine é muito interessante de se assistir. Um filme não só agradável, mas de certa forma reflexivo: como cuidamos da nossa família? O que significa fazer parte de uma família e zelar por ela? Afinal de contas, a família – e não me refiro somente aos laços sanguíneos - é o princípio de tudo, a base de tudo aquilo que pretendemos construir.

O filme foi indicado aos Oscar de Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Alan Arkin), Atriz Coadjuvante (Abigail Breslin) e Roteiro Original. Os diretores são um casal, e não sei por que cargas d´ água não foram indicados. O melhor filme não deveria ter o melhor diretor? A visão que tiveram do enredo foi, talvez justamente por serem marido e mulher, balanceada sob o ponto de vista da família. Conseguiram fazer um filme emocionante, sensível e independente.

Mais: destaque para a cena comovente que mostra os irmãos sentados e, ao fundo, o resto da família e a Kombi – que vira um personagem com a função de agregar todos os outros.

A torre da incompreensão





















A Torre de Babel foi uma tentativa de construir um edifício tão alto a ponto de tocar o céu. Segundo o relato bíblico, Deus não gostou de tamanha ousadia humana e fez com que os trabalhadores começassem a falar em línguas diferentes, de modo que não pudessem mais se comunicar, deixando a obra abandonada. Babel, filme indicado a sete Oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Adriana Barraza e Rinko Kinkuchi), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição) e ganhador do Globo de Ouro de Melhor Filme Drama, traz quatro histórias, todas elas faladas por diferentes idiomas, que apresentam certa ligação.

Dois garotos marroquinos (Said Tarchani e Boubker At El Caid) que manejam um rifle a fim de proteger a pequena criação de cabras da família. Eles “brincam” de atirar até que o mais novo acerta um ônibus repleto de turistas norte-americanos. Ali está o casal Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), que deixaram seus dois filhos nos Estados Unidos sob os cuidados da babá mexicana Amelia (Adriana Barraza), a qual decide levar as crianças ao México para um casamento. Por fim, uma garota japonesa e surda (Kôji Yakusho) tenta aceitar a perda de sua mãe e viver a adolescência.

Dirigido pelo mexicano Alejandro González-Iñarritu (Amores Brutos e 21 gramas), as histórias tendem a se encontrar de forma tensa. O problema de um filme com histórias separadas é o ritmo. É quase impossível para Iñarritu manter um ritmo constante quando a história acaba, naturalmente, sendo umas mais interessantes que as outras, ainda que isso nos deixe ansiosos pela “volta”. Os cortes, que deviam ser suaves, tornam a narrativa lenta. Mas parece que é mesmo essa a intenção do diretor. Além disso, ele utiliza repetidamente a técnica de manter a ação na imagem e a quase mudez no som (isso é bem mais fácil de entender quando se trata da garota surda-muda, mas é usado em quase todas as outras histórias paralelas). Estaria sendo utilizado para demonstrar a incomunicabilidade, seja política, amorosa, por fatores externos ou até por deficiência.

Em uma entrevista de divulgação do filme, o cineasta diz ter um olhar crítico em relação à política externa dos Estados Unidos, no caso em que a turista ferida vira notícia no mundo inteiro antes que ao menos receba ajuda. Além disso, a busca por um culpado, um inimigo em ação contra a América, é feita quase instantaneamente.

O roteiro, do também mexicano Guillermo Arriaga, busca mostrar uma globalização de sentimentos comuns. Dessa forma, o filme levanta temas como intolerância, imigração ilegal, terrorismo, pobreza e violência. As histórias se passam nos Estados Unidos, México, Marrocos e Japão. A intenção seria mostrar a incapacidade de se comunicarem de pessoas de diferentes culturas, nacionalidades e de idiomas distintos. Mas há exceções: o personagem de Brad Pitt, por exemplo, briga com outro turista norte-americano e se entende com um cidadão marroquino que ajuda sua esposa.

A história da japonesa, ainda que gere bons momentos – ela em uma festa de música eletrônica com novos amigos -, está totalmente deslocada do contexto em que se passa o filme. É uma narrativa que daria para fazer um filme inteiro ao invés de deixá-la fora de contexto, o que compromete todo o resto. Além disso, a lentidão da trama e a redundância com que o diretor usa seus recursos técnicos ofuscam as possíveis mensagens que o roteiro visa transmitir, como: simples atos impensados podem gerar conseqüências devastadoras ou os preconceitos com diferentes culturas (aqui, Babel se assemelha a Crash, ganhador do Oscar de Melhor Filme do ano passado).

Sinceramente, não merecia indicação ao Oscar de Filme e muito menos de Direção. Mas, verdade seja dita, se vencer na categoria Melhor Filme, vai ser um filme que não é falado somente na língua inglesa. Uma vitória de diferentes culturas. No mais, um filme superestimado.

A temperatura que os livros queimam




Um homem comum tomando uma xícara de café em sua própria casa e fumando um cigarro recebe uma estranha ligação.
- Alô!
- Sai de casa. Apresse-se!
- O quê? Quem é?
- Vai logo. Se mexe!
A câmera aproxima dando closes no rosto do rapaz em quatro cortes. A pessoa desliga. Ele ouve o barulho de sirene. Olha na janela. Pega o casaco e sai comendo uma maçã. Instantes depois chega o corpo de bombeiros. Seus homens vestindo preto invadem a residência e procuram insistentemente por... livros. Juntam os exemplares que conseguem encontrar e queimam tudo.

Assim é o começo de Fahrenheit 451, filme dirigido por François Truffaut, cujo roteiro é baseado em livro de Ray Bradbury. A história se passa em algum lugar do futuro, quando bombeiros são os tentáculos de um sistema que abomina toda forma escrita (os jornais que os personagens lêem são compostos por figuras) e queimam livros. Um dos bombeiros, Guy Montag (Oskar Werner), passa a questionar suas próprias ações. Tentarei, por meio deste artigo, comentar algumas passagens da trama, o que pode estragar o filme a quem ainda não o tenha assistido.

Aviso dado, vamos ao óbvio: François Truffaut é gênio. Ele é um dos expoentes da Novelle Vague francesa, ao lado de Jean-Luc Godard, e seu primeiro filme, Os Incompreendidos (1969), lhe rendeu o prêmio de Direção em Cannes.Seus planos, suas boas sacadas, a composição das cenas e suas transições: partes que podem ser consideradas como aulas de cinema. O uso consciente e moderado da câmera lenta, quando tem a intenção de justificar alguma passagem ou dar ritmo é um dos melhores achados de Fahrenheit 451. A propósito, a abertura do filme é falada – não temos os créditos dedicados aos atores, roteiristas, diretor, etc. como modo a encenar o que veremos a seguir: uma sociedade que abomina palavras impressas em um filme que se apresenta sem palavras escritas.

Em Fahrenheit 451, o sistema sob o qual as pessoas vivem entende que, para sermos felizes devemos ser iguais, e para sermos iguais ninguém deve ler, uma vez que a leitura diferencia as pessoas. Quando Montag encontra uma jovem professora no ônibus, ela lhe pergunta se ele já lera algum dos livros que queima. A curiosidade toma conta do bombeiro, que passa a repensar seus valores: afinal, por que tudo isso?

Quando ele começa a ler, desenvolve um senso crítico, passa a fazer perguntas e a sair do mundinho fechado em que seus conhecidos vivem – um mundo dominado pela televisão. Aqui cabe um questionamento: não seria a TV objeto muito mais disseminador de idéias – e perigoso sob a ótica do filme – que livros? Mas a TV que assistem é dominada por um canal alienador, que conta com novelas interativas e um telejornalismo do espetáculo.

Assim, Montag, que julgava ser feliz, passa a mão ser mais. Ele acha um mundo novo a descobrir e sai da caverna em que estava preso e na qual outros como ele ainda estão. Mais uma vez o mito da caverna de Platão. Montag se destaca e não vê mais o mundo com os mesmos olhos. Nessa transformação do personagem tem destaque a cena em que uma mulher idosa, cuja biblioteca ia ser queimada pelos bombeiros, resolve atear fogo em si mesma. Ela morre junto aos livros que tanto ama.

Depois de ser perseguido por essa sociedade – e aqui o cenário composto pelo diretor é coerente com a proposta do filme: a cidade não tem arroubos futuristas, mas contém uma atmosfera sombria, asfixiante e opressora – Montag foge para um retiro no qual estão várias pessoas que usavam livros e que também foram marginalizados pela sociedade. A cena de sua perseguição é um dos momentos mais fracos do longa. Falta emoção e credibilidade.

Nesse lugar, ele vai ter contato com os homens-livros: indivíduos que decoraram leituras que fizeram a fim de nunca deixar a cultura morrer. O papel pode ser queimado, mas o que está na mente nunca pode ser usurpado. Ali ninguém tem nome. Chamam uns aos outros pela obra e pelo autor: Macbeth, de Shakespeare; Pride and Prejudice, de Jane Asten. Essas pessoas-livros deixam de ser pessoas para virarem livros.

É um lugar que não parece bom e no qual se está perdido como em uma grande biblioteca. Aí está o final anticlímax, com certa dose de pessimismo, mas que faz pensar: as pessoas são felizes na ignorância, como a mulher de Montag; mas ele começa a ler, a pensar e a se desvencilhar daquele mundo e não consegue mais ser feliz e nem voltar ao estado inicial de ignorância. Algumas perguntas: se pudesse voltar à ignorância e, assim, à ilusão de ser feliz, nós voltaríamos? Você voltaria? E ele, que vê o mundo com novo olhar, qual o próximo nível de felicidade? Como alcançá-la?

A explicação do filme é que não há mais felicidade, mas apenas um espaço onde nos podemos esconder, onde se deixa de ser humano para ser um livro ambulante – e nem sabemos como essa comunidade se sustenta, pois passam a vida a recitar as linhas dos livros que leram, sem nada mais fazer. É o movimento cíclico de alienação, mas dessa vez com o livro como objeto. As pessoas vivem na inércia, sem buscar a felicidade, sem crescer, sem voltar à cidade para revolucionar. Elas mesmas se tornam escravas da admiração submissa às grandes obras e o livro deixa de cumprir a função de desenvolvimento. Eles se livraram daquela sociedade para se escravizarem em outra.

O filme deixa um gosto amargo, mas, assim como um bom livro, faz refletir.

Ah, o amor...



















Os chamados filmes de comédia romântica são, em geral, muito previsíveis: um homem que é apaixonado pela mulher (ou vice-versa) irão enfrentar mil desafios para ficarem juntos e felizes. São raros os filmes desse gênero que conseguem sair do lugar-comum, e é justamente o caso de Elsa & Fred, uma co-produção Espanha-Argentina dirigida pelo argentino Marcos Carnevale.

Ela (China Zorrilla) é uma mulher idosa que adora contar histórias – tanto faz se são verdadeiras ou não. Sofrendo uma doença terminal, Elsa tenta aproveitar cada minuto intensamente, dando o máximo de si.

Ele (Manuel Alexandre) é um aposentado ressentido com a recente morte da esposa e a influência de uma filha estressada que, aliada com o marido, deseja o dinheiro de Fred para investirem em um cybercafé. Fred é hipocondríaco e toma remédios em excesso. Tem medo de viver.

Quando se conhecem em Madri, Espanha – moram em apartamentos vizinhos -, passam a ter uma relação. Elsa é elétrica e adolescente. Fred, um tanto conservador e reticente. Um vai ajudar ao outro na busca pelos sonhos e na coragem de, independente da idade avançada, viver.

Quem falou que pessoas idosas devem ficar sentadas, sem nada a fazer, esperando a morte chegar? Por que eles não podem encontrar o amor novamente e redescobrir sentimentos que são mais fortes na juventude? O filme quebra tabus e mostra um casal de idosos em toda a beleza que essa experiência pode trazer.

O grande destaque fica por conta de Elsa. China Zorrilla encarna com intensidade uma personagem que, sabendo que não tem muito tempo, decide fazer tudo o que deseja. Uma atuação cheia de significado em suas risadas, no modo de falar e na jornada que leva à conquista de Fred. Apesar da grave doença, Elsa tenta deixar de lado o fato inexorável de que vai morrer. Mas isso é justamente o drama que as pessoas idosas têm de enfrentar: vão morrer logo; o que fazer para serem felizes no pouco tempo que resta? A lição que Elsa transmite é válida em todas as fases de nossas vidas.

Com toques de humor que recheiam toda a produção, Elsa & Fred é uma boa surpresa. O filme não tem idade-limite: é agradável a todas as idades. Um filme diferente, leve, simpático e romântico.

Pegadas

Na pegada.
Na pegada de fazer. Qualquer coisa. Bem feita, feito e fazida.
Na pegada de crescer. Pra qualquer lado. Desenvolver. Evoluir
Na pegada de chorar. Às vezes é necessário. Desabafar. Soltar as lágrimas. Jogar pra fora. Talvez se sinta melhor. Talvez não. Mas tudo isso faz parte.
Na pegada de ser. Quem quer que seja. Mas você.
Na pegada de viver. Um dia é da caça. Outro do caçador. E isso também faz parte.
Na pegada de ser feliz. De não medir esforços para isso, mesmo que a felicidade seja cíclica e passageira e que os momentos de não-felicidade possam estimular atos e atitudes.
Na pegada de amar. A pessoa pode não te merecer, não te dar atenção, não ser quem você espera. Você pode amar hoje e odiar amanhã. Mas o sentimento do amor há de te fazer bem, não sendo desperdício amar a quem não te ama.
Na pegada de nada fazer. Na pegada de fazer tudo. Na pegada de saber aproveitar. Na pegada de lutar, lutar e, por fim, vencer. Ou até na pegada de perder, pois isso também faz parte.
E, por fim, na pegada de curtir. Na pegada de pegar. Na pegada de pegada.