Sem entrevista, mas com autógrafo

Caco Barcellos veio para Florianópolis. O motivo, uma palestra sobre mídia e violência na Assembléia Legislativa do Estado (Alesc).

Na véspera, fiquei em casa lendo antigas entrevistas, algumas bobagens jogadas na rede e elaborei algumas perguntinhas. O objetivo era fazer uma entrevista ping-pong com Caco, apesar de eu nem sequer estar inscrito no evento (já se tinham esgotado os lugares no auditório).

Com nada garantido, mas alguma força de vontade, chego à Alesc mais ou menos duas horas antes da palestra. Vejo o lugar, observo um pessoal do SBT entrar. Subo uma rampa que dá acesso ao auditório. Volto. Tento subir a outra rampa. Por onde Caco Barcellos vai subir? Preciso falar com ele antes da palestra. Continuo subindo, quando:

- Ei, menino! Vem aqui! Você não pode subir aí.
- Não vai ser aqui a palestra do jornalista Caco Barcellos?
- Vai. Você está inscrito?
- Não. Eu faço Jornalismo na Federal. Vim aqui porque queria bater um papo com Caco Barcellos. Onde fica o pessoal da imprensa?
- Ah, ele não vai dar entrevistas. A Globo não permite. Não está no contrato.

Frustrado, vejo minha entrevista indo embora, assim como minha chance de assistir de perto o evento e, quem sabe, ganhar um autógrafo em meu livro Rota 66, escrito por Barcellos.

Fico ali. Vejo o tempo passar. Uma agitação. É o pessoal do credenciamento. Converso com duas senhorinhas. Digo que não consegui vaga. Uma delas conversa com a amiga, integrante da Escola do Legislativo, entidade organizadora da palestra. Vestindo uma blusa verde-limão, esta diz que o filho, que está inscrito, não vai comparecer, mas mesmo assim não pode me dar o ingresso. Me concede uma esperança, ao menos:

- Fique aqui do lado que eu vou ver...

Fico lá. As pessoas chegam, assinam e pegam o convite. Ela olha para mim. Vira o rosto e, rapidinho, me passa um convite. Pego e saio rápido em direção ao auditório.

Cerca de 500 pessoas no recinto quando Caco entra e vai falando sobre o papel declaratório na imprensa atual: alguém denuncia e a imprensa cai logo matando, sem investigar e sem respeito para com os acusados.

Algo que me marcou foi a afirmação convicta contra repórteres que vão, digamos, comprar drogas com uma câmera escondida. “Esse repórter também devia ser preso. O trabalho dele é ir lá, filmar a realidade, investigar, e não induzir pessoas a comprar, mostrando como é fácil...”

A palestra se desenrola, com algumas matérias de TV para explicar alguns pontos de vista, alguns com conteúdo um tanto perturbador. “Ás vezes, temos que falar de coisas que não são confortáveis”

...

É, temos que ajudar a mudar isso tudo.

...

Logo que acabou, fui atrás do jornalista para conversar sobre a entrevista, mas vi que ela não seria possível. “O Caco vai embora amanhã às 6h da manhã”, disse uma das secretárias. A entrevista não vai rolar. Os olhos abatidos, cabelos grisalhos, aparência cansada. Pedi um autógrafo, que foi escrito com minha caneta na folha de rosto do livro, em letras ininteligíveis, tais como a de um médico, e tão feias quanto as minhas: “Para Pedro, muito obrigado pelo interesse no meu livro. Abraço forte. Caco Barcellos. Floripa, 23.04.07.

Não consegui a entrevista, mas ganhei o autógrafo!

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