El Diario de El Chavo del Ocho

Escrito por Roberto Gomez Bolaños, “El Diario de El Chavo del Ocho” reúne anectodas del personaje más famoso de tooooda Latinoamérica. ¡Tenía que ser el Chavo del Ocho!

Así el Chavo del Ocho resume lo que aprendió en la clase de Historia del profesor Longalaniza,o más bien, el profesor Jirafales:

“... Entonces empezó otra Guerra de la Revolución. Pero no contra Don Porfirio, sino todos contra todos; porque todos querían ser presidentes.

“El único que no quería ser presidente era Emilio Zapata. El que él quería era que todo mundo fuera campesino.

“Lo malo fue que los ricos hacendados preferían ser ric
os hacendados antes que ser campesinos; y como no se ponían de acuerdo, los campesinos empezaron a matar a los ricos hacendados y los ricos hacendados empezaron a matar a los campesinos. Y total, que la tierra no la ocuparon ni los campesinos ni los ricos hacendados, sino los muertos que tenían que enterrar; porque en ese tiempo mataron a tantos, que el promedio fue que la gente se moría uno por persona.”

“Y, al final: “Lo más curioso es que en México ha habido muchas calles que tienen nombres de presidentes, y un presidente que tiene nombre de Calles”.

Y otro día el profesor estaba contando que México perdió la mitad de su territorio, y la Popis dijo: “Por no fijarse dónde dejan las cosas”.

"La venganza nunca es plena, mata el alma y la envenena." (Jaimito el cartero)

“Nuestro país no es un reino, sino una república. Por eso aquí no se debe decir, por ejemplo, que un árbol pertenece al reino vegetal y una pedra al reino mineral. Lo que se debe decir es que el árbol pertenece a la republica vegetal y la pedra a la republica mineral.”

Ossobuco e canibalismo

Acabo de ler um artigo antropológico chamado "Canibalismo y pobreza", em que os autores analisam o discurso midiático de um caso que aconteceu em maio de 1996, quando alguns habitantes de uma favela de Rosario, Argentina, alimentaram-se de gatos.

O texto nos alerta para a importância que o alimento tem na vida humana:

"Ao incorporar um alimento, o homem incorpora não só nutrientes essenciais para a vida, mas também um universo de idéias, imagens e sentidos em função dos quais se define como um tipo particular de homem, ou seja, define sua identidade individual e coletiva".

O tabu de comer um animal de estimação - "animais humanizados por excelência" - nos leva à metáfora do canibalismo e do shows de manchetes e depoimentos escandalizados. Comer nossos animais de estimação seria, então, quase um ato canibal.

E isso me leva a pensar, junto com o texto, que pensar sobre o que comemos é pensar sobre quem somos e quem seremos e quem queremos ser. A velha frase do "você é o que você come". Mas e se você não tiver nada para comer? Vale se alimentar de mascotes?

A propósito, aí vai a foto do almoço de sábado, que, a proósito, não tinha nenhum animal de estimação no menu: ossobuco, tomate e fritas.


Entre choques e crises

Na 34ª Bienal Internacional do Livro de Buenos Aires, fui atraído por um filme que estava passando no stand da Editorial Paidós. Vi as imagens de presos sendo eletrocutados em contraste a um ambiente branco de neve. O filme era uma publicidade muito inteligente do novo livro da jornalista e economista canadense Naomi Klein.

Sob o título A Doutrina do Choque, a autora expõe sua tese de que os desastres naturais de nosso século, bem como as guerras e o terrorismo são cenários de uma política de choque impetrada pelo neoliberalismo. Ela parte da idéia de que o choque, que causa confusão e desnorteamento nas pessoas, é parte integrante de um fenômeno político causado pela globalização.

Na entrevista que concedeu ao periódico cultural Ñ, do jornal El Clarin de 26 de abril, Naomi Klein fala sobre o conceito de crise, fundamental para entender o que vivemos hoje, a guerra do Iraque, o combate ao chamado terrorismo. A crise do 11 de setembro, a crise do furacão Katrina, as crises que são necessárias para desestabilizar a população e, assim, implementar políticas que não seriam facilmente aceitas, caso não tivéssemos em (ela de novo) crise.

E, pensando bem, essa idéia está presente na implementação das ditaduras latino-americanas da segunda metade do século XX. A crise por que fez-se acreditar que as nações estavam passando, a ameaça comunista e a instabilidade econômica buscavam legitimar o novo governo, a chamada Revolução.

As políticas dos militares que, apoiados pelos Estados Unidos, foram astutos para negar aquilo que o grande jornalista argentino, Rodolfo Walsh – ele mesmo “desaparecido” nos centros de detenção do governo militar – acusava publicamente: usar a violência massiva para conseguir objetivos econômicos que mantinham o povo aterrorizado e eliminava obstáculos que, de outro modo, certamente teriam provocado uma revolta popular.”

A crise que nos faz mudar, que nos faz considerar as coisas de outra forma, que nos faz reavaliar, mas que não é natural. Antes disso, é forçada, provocada, impetrada por uma política que se apóia no medo, na guerra iminente e no estado de sítio.

Foto: www.vagalume.uol.com.ar

Obs: O vídeo da cobertura da 34ª Bienal Internacional do Livro de Buenos Aires está quase pronto.

Uma quinta-feira na Universidad del Cocktail


Na única universidade de coquetelaria do mundo, o instrutor responsável pelas aulas de coquetéis mais elaborados tem 26 anos e se chama Marcelo Farello. Mas se você o chamar assim é capaz que não te responda, porque o nome pelo qual ele é conhecido, no meio em que trabalha, é Cuba. Simplesmente Cuba.

Localizada em Buenos Aires, a Universidad del Cocktail foi fundada há mais ou menos dez anos pelo patrão de Cuba, um homem corpulento, que usa camisa aberta no peito e enfeita-se com correntinhas e artigos de prata e ouro. Fabian Quiroga fica sentado em sua sala - a maior da universidade - resolvendo problemas e dando risadas. Ele, porém, não gosta de jornalistas. Quando vê que um se aproxima da sua Universidade, ele faz questão de ficar frente a frente com o sujeito, ordenar-lhe que mande, por escrito, o que pretende investigar, bem como uma pauta pré-programada e o nome do veículo onde trabalha. Depois de analisar se o jornalista não fará mal a seus negócios, nem vai ficar fuçando em coisas, a seu ver, desnecessárias, Quiroga o “ajuda” a fazer as fotos (ou ele mesmo as faz), escolhendo o melhor ângulo, a melhor iluminação e a melhor visão que quer que os leitores tenham da Universidade.

Mas Fabian Quiroga permite, a quem converse um pouco com ele e ria quando ele ri, que se assista a uma aula, assim, despretensiosamente, só para “ver como é”. E são nessas aulas que Cuba ensina seus alunos a andar sempre com um cartão de visitas no bolso e o currículo no pen-drive. “Essa profissão é feita, mais do que as outras, de contatos sociais. Quando se chega no serviço é necessário esquecer dos problemas e manter o sorriso na cara. Senão é melhor nem ir trabalhar”, ensina.

A sala de aula é um bar cheio de bebidas, copos de todos os tipos, gelo à vontade, e acessórios para o trabalho do bartender. Estaria completo não fosse a falta de vodka, o que fará Cuba escolher tragos que não levem vodka para que os alunos, na segunda parte da aula, vão para trás do balcão e elaborem drinques que serão avaliados e talvez degustados.


Os quatro estudantes do segundo módulo já passaram do nível das bebidas rápidas e pouco elaboradas, próprias das casas noturnas onde o que importa é ser rápido para atender à multidão de gente que fica no bar gritando por seu drinque. Aqui eles têm um trabalho mais profundo, uma mistura de bebidas que serão oferecidas em hotéis ou bares mais chiques, em que o coquetel sai pela média de quinze reais, dependendo do que vai nele.

Um dos alunos é Emanuel, que tem um corte de cabelo que os brasileiros classificariam como “tipicamente argentino”. Quando vai para trás do bar, exibe a habilidade de quem já trabalha fazendo tragos, mas ainda lhe falta memória, velocidade e carisma, essenciais para quem está nessa profissão. Ele, que decidiu ser barman depois de perceber que “as meninas gostam muito de quem está atrás do bar”, é o último a se apresentar na primeira rodada da avaliação semanal feita pelo instrutor. Antes dele veio Nico, um garotão que gosta de beber e trabalha em uma casa noturna.


A certa altura, depois do sexto copo de drinque, Nico, com os olhos brilhantes, pergunta a Cuba se é lícito aceitar gorjeta de clientes que peçam para colocar um pouco mais de bebida alcoólica no coquetel, uma prática que ele revela fazer com freqüência mas que não tem certeza se age certo.

Cuba tem uma forma de pensar em bar como um negócio. Pensa grande, macro, e trabalha sério para merecer os 500 pesos que cobra por evento. “Se eu sou o dono e descubro isso, te coloco na rua na hora. Você está ganhando em cima da minha bebida. Se você coloca um chorinho para cada cliente, é capaz que eu tenha um déficit de uma, duas garrafas por noite. Na semana são catorze, quinze garrafas que eu perco para você ganhar sua gorjeta”, responde, voltando à sua voz calma e didática de instrutor. “Você tem que merecer a gorjeta. Ganhar pelo seu trabalho, porque você trabalhou bem, fez um bom drinque. Gorjeta não se comercia. Ela é o reconhecimento de seu bom trabalho.”

Completando os quatro alunos do módulo dois (são quatro ao total, os dois últimos dedicados à administração e gerenciamento), está um homem de cabelos bem curtos e testa sobressalente. Ele erra em todos os itens que Cuba estava avaliando. “Se você não estudar os ingredientes dos drinques nunca poderá ser um bartender”, sentencia o instrutor, indicando com a cabeça o próximo aprendiz de bartender a ser avaliado.

Por último está Cindy, uma menina de 24 anos que, embora ele não admita abertamente, é a aluna favorita de Cuba. A estudante mais aplicada trabalha em eventos e estuda muito, de modo que já tem memória e habilidade avançadas, o que não a impede de continuar tomando notas, todo o tempo, das lições de Cuba.


Cindy cuidava da avó doente e, cansada do “blábláblá” da faculdade que cursava, queria uma profissão em que pudesse aplicar, na prática, toda a teoria que aprendia. Quando sua avó melhorou, ela se matriculou na Universidad del Cocktail e começou a trabalhar como secretária e, simultaneamente, era bartender em uma casa noturna localizada em um bairro periférico de Buenos Aires. Ela foi uma das primeiras e, como sempre, uma das últimas a sair.

São 22h e é hora de encerrar o expediente. As bebidas sobre a mesa, as que não foram tomadas por Nico ou o que restou das bebericadas de todos, são jogadas fora e o bar fica impecavelmente limpo, do mesmo jeito que estava antes da aula.

Todos se despedem e Cindy, Cuba e um outro bartender correm para tomar o metrô. Ali, todos eles já aprenderam, como um dia Nico também vai aprender, que coquetéis são para se degustar e não para, nas palavras de Cuba, “se intoxicar”.

O rei visita a Argentina

Ele entra e fica de pé no centro do palco, as costas viradas ao público. Roberto Carlos às vezes canta de costas como para ressaltar os músicos que o acompanham. Com as mãos, ordena à orquestra um pot-pourri de suas principais canções: “O Calhambeque”, “Emoções”, “Detalhes”. Mas peraí: Roberto Carlos usando um terno preto? Não pode ser.

Quem abre o show de Roberto Carlos não é Roberto Carlos, mas sim Eduardo Lages, o maestro da banda. O “rei” vem logo depois, em terno branco, a mesma posição de segurar o microfone e o velho olhar oblíquo à esquerda, como se estivesse lendo algo, ou mirando alguém, que só ele enxerga.


Logo às primeiras palavras em castelhano, o público, composto por senhoras e senhores (mais senhoras) acima dos 50 anos, como já era de esperar, aplaude, assobia e canta junto. Parecem não terem dado muita bola para o adiamento do show, que acontece em uma segunda-feira porque, no domingo, o caminhão de cenografia e luzes, que saía de Buenos Aires, não chegou à tempo.

No Orfeo Superdomo, o maior ginásio de shows de Córdoba – capacidade para pouco mais de 6 mil pessoas - Roberto Carlos finaliza sua passagem pela Argentina. E ele fala, fala muito durante o show, mas não precisa de esforço para ganhar a platéia, há muito apaixonada pelo ídolo brasileiro.
Com temas traduzidos ao espanhol, Roberto Carlos conquistou, também, a admiração dos argentinos. Muitos deles nem conhecem o Brasil, mas gostam muito dos temas do “rei”, baseados no tema do amor e feitos para o amor.


















No momento da canção “Maria Rita”, composta em homenagem à sua mulher, morta em 1999, preparou-se toda a atmosfera de emoção. A luz baixou e só um feixe azul e branco estavam apontados ao Rei, que estava sentado em frente ao piano branco. Sentenciou umas palavras cuidadosas:

“Yo tengo el placer de saber lo que es el amor. Es que un día descubrí la diferencia entre el amor y la pasión. La pasión es una reacción única, pero el amor es un sentimiento capaz de ser eterno. Un gran amor es eterno. Estoy hablando de mi gran amor: María Rita”

E começou a tocar enquanto, os telões reproduziam a letra. Na segunda frase, surgiu a palavra “pause” e Roberto Carlos parou para anunciar um problema técnico:
“Vicente, apague a luz”.

Depois de dez segundos tudo voltou ao normal e veio um respeito silencioso da platéia para escutar uma música que parece de fato emocionar o cantor, não importa quantas vezes a repita.

Roberto Carlos é “só” o artista latino-americano que teve mais discos vendidos e o brasileiro que mais vendeu discos na história. É o rei que viu o primeiro sucesso quando fazia rock brasileiro nos anos 60 e que, como um bom monarca, busca aparentar modéstia, reverenciando os treze músicos, três coristas e o maestro que tocam com ele. Abaixa a cabeça, homenageia as pessoas à frente, mas sabe, no fundo, que o rei é ele. E todos na banda o sabem. E a platéia também. E, além disso, todos querem ser governadas por ele.

João, um dos dois guitarristas, um tipo gordinho e simpático, desce do palco ao final do show para tirar foto com uma ou duas mulheres. Elas pedem seu e-mail e ele pergunta alguma sugestão para sair na noite cordobesa, algum lugar pra comer (com ou sem duplo sentido). Uma delas parece se interessar, mas o real interesse não é pelo João, não é pela gente da corte, mas pelo rei. Ela tenta entregar-lhe uma foto tirada do jornal para que ele passe a Roberto Carlos a fim de um autógrafo. Mas João afirma o que elas não suspeitavam: “Eu vejo o Roberto Carlos o mesmo que vocês. Essa hora ele já deve estar pegando o jatinho para viajar”. Claro que não é bem assim. De qualquer forma, João, 29 anos, que desde os 14 já admirador de Roberto Carlos, sabe, no fundo, seu lugar no reinado. Tira foto com as meninas, mas nunca será João. Vai ser sempre “o guitarrista de Roberto Carlos”. E as fotos terão a legenda: “nós com o guitarrista do Roberto Carlos”.

Pouco antes de acabar o espetáculo – uma falsa parada estratégia para voltar mais duas vezes sob os gritos histéricos de “otra, otra”, Roberto Carlos leva montes de rosas nas mãos. Com elas – brancas e vermelhas -, ele finge beijá-las (na verdade nem chega a encostar a boca) e joga às mulheres apaixonadas, que lutam pela “flor do rei”. São senhoras como a administradora Lilia Ghisolfi, 54 anos, que se declara fã incondicional das músicas românticas e das palavras doces do rei. Na companhia de três amigas, ela assiste, impassível, ao show: nunca esteve tão perto do ídolo brasileiro.
Até que chega alguém da produção e anuncia no ouvido de Roberto Carlos que não havia mais tempo. O show, que durou quase duas horas, tinha que acabar, o ginásio tinha que fechar, as pessoas tinham que trabalhar no dia seguinte, e o rei precisava descansar. Ele não faz muitos shows desses. São uns quarenta por ano e estão diminuindo. São muito caros, não acessíveis a qualquer um que queira assistir a uma apresentação que não seja pelo especial de fim de ano da Globo. No reino de Roberto Carlos plebeu não entra. Ele é o primeiro a abandonar o palco enquanto os músicos esperam alguns segundos, a ver se o rei não mudou de idéia e quer cantar mais um pouco. Sabem, também, que o rei tem poderes e que poderia, se fosse seu desejo, cantar mais uma, duas ou dez canções. Mas as luzes se acendem e os músicos começam a guardar os instrumentos. O show na Argentina acabou. Só Deus sabe quando Roberto Carlos volta.

Isso é o que assegura o vendedor paulista que está fora do Orfeo Superdomo. Com um pacote com três fotos montadas de Roberto Carlos, mais uma fachinha dessas de colocar na cabeça, ele grita às pessoas que estão saindo:

“Mirá, fotos de Roberto Carlos, fotos del show”.

O velho jeitinho brasileiro. As fotos não são do show, mas quem se importa? As senhoras passam e pagam dez pesos pelo material. Os maridos tentam andar rápido para não serem obrigados a ouvir suas acompanhantes pedir-lhes para comprar o souvenir que, sabem bem, não deve servir para muita coisa depois de passado o afã pós-espetáculo.


A última senhora que sai é Milagros, acompanhada de sua amiga da natação, Érica, muitos anos mais nova. Milagros é do tipo que gosta de falar e se distrai enquanto explica ou pergunta algo que muito lhe interessa. É mais uma a morrer de amores pelo rei e chega a largar o volante da direção do carro para contar do tempo em que ouviu Roberto Carlos pela primeira vez, há muitos anos, quando estava de férias no Brasil.

O carro vai um pouco para o lado, atravessa a pista lateral, onde uma moto passa e o motoqueiro buzina. Mas para ela nada mais interessa. Ela viu Roberto Carlos.