Ossobuco e canibalismo

Acabo de ler um artigo antropológico chamado "Canibalismo y pobreza", em que os autores analisam o discurso midiático de um caso que aconteceu em maio de 1996, quando alguns habitantes de uma favela de Rosario, Argentina, alimentaram-se de gatos.

O texto nos alerta para a importância que o alimento tem na vida humana:

"Ao incorporar um alimento, o homem incorpora não só nutrientes essenciais para a vida, mas também um universo de idéias, imagens e sentidos em função dos quais se define como um tipo particular de homem, ou seja, define sua identidade individual e coletiva".

O tabu de comer um animal de estimação - "animais humanizados por excelência" - nos leva à metáfora do canibalismo e do shows de manchetes e depoimentos escandalizados. Comer nossos animais de estimação seria, então, quase um ato canibal.

E isso me leva a pensar, junto com o texto, que pensar sobre o que comemos é pensar sobre quem somos e quem seremos e quem queremos ser. A velha frase do "você é o que você come". Mas e se você não tiver nada para comer? Vale se alimentar de mascotes?

A propósito, aí vai a foto do almoço de sábado, que, a proósito, não tinha nenhum animal de estimação no menu: ossobuco, tomate e fritas.


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