Uma ficção diferente das outras?

Consuelo Lins, no texto "Documentário: uma ficção diferente das outras?" define documentário como a forma de cinema que sempre se apoiou na imagem concebida como uma boa representação do real.

"Com mais ou menos paixão, os movimentos dessa forma de cinema procuraram constantemente um melhor adequação entre a imagem e o mundo, entre a representação e a realidade, pela utilização de certas técnicas, práticas e estéticas, qualificadas então como mais aptas do que outras para capturar a realidade e o mundo."


Para isso, ela estabelece cinco pontos de partida:

1) Todo documentário é um artefato construído por blocos de espaço-tempo, fabricando seus efeitos, impressões, sensações, pontos de vista, visões de mundo.

2) No entanto, por mais artificial que seja a imagem automática, há sempre um “grão de real” que adere à imagem e ultrapassa toda figuração (=natureza paradoxal);

3) Não há técnica, metodologia ou estética mais aptas que outras para captar o real e o mundo;

4) O ato de filmar implica uma metamorfose daqueles que filmam e dos que são filmados, que pode ser assumida ou disfarçadas por convenções estabelecidas;

5) O documentário não tem uma essência realista e não é necessariamente mais próximo da realidade do que a ficção. Ele foi criado foi criado a partir dessa crença, que é na verdade uma invenção, produzida por práticas e discursos específicos. Isso não impede que essa forma de cinema tenha aberto belas vias para o cinema em geral.

DVD duplo da VII Semana do Jornalismo

Divido o relatório que fizemos sobre erros e acertos na autoração do DVD da VII Semana do Jornalismo. Depois de muito (muito, muitíssimo) trabalho, o DVD duplo está pronto!

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O lançamento do DVD da VII Semana do Jornalismo acontece nesta segunda-feira, dia 24 de novembro, em uma confraternização no bar Volantes às 19h.

O produto, vendido a R$ 15, conta com dois DVDs. O primeiro disco apresenta o compacto das palestras e mesas de discussão. O disco II conta com entrevistas exclusivas com alguns convidados: Fred Melo Paiva, Arthur Dapieve, Ruy Castro, Cremilda Medina, Roger Rodriguez, Diego Barredo e Marcelo Tas.

O lucro será revertido para o Centro Acadêmico Adelmo Genro Filho.

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Era relativamente fácil e, inexplicavelmente, nunca feito : pegar as palestras e mesas de discussão e colocá-las tudo num DVD para registro, curiosidades e formas de difusão além dos cinco dias do evento.

Para nós, da VII Semana, faltou sentar e planejar tudo antecipadamente. As coisas foram surgindo, as tarefas, acumulando, e tivemos que tomar decisões em cima da hora, algumas unilateralmente, inclusive.

As coisas não foram muito planejadas em dois aspectos: a transmissão ao vivo e a autoração do DVD.

Nas seis semanas anteriores, a transmissão ao vivo ficava por conta do pessoal de ensino à distância, do LIBRAS, que, comandado pelo técnico Roberto Vargas, faziam o trabalho, ao qual já estão acostumados, sem grandes problemas.

Mas na VII Semana, eles não puderam nos ajudar. Na abertura, segunda-feira, o material que tínhamos gravado estava na baixíssima qualidade da transmissão ao vivo. Colocar a primeira palestra e mesa de discussão no DVD seria um problema. O jeito foi nos (re)organizarmos para, além da captura pela câmera que estava transmitindo ao vivo, gravarmos em qualidade aceitável com as câmeras mini-DV do curso.

Essa organização em cima da hora exigiu custos. Estamos trabalhando com aproximadamente dez acontecimentos de mais de uma hora. Em formato AVI (o de mais alta resolução), uma hora de fita equivale a 13 gigabytes! Haja fitas mini-DV, e espaço físico para tanto. Tivemos que improvisar.

Fizemos assim: além da câmera do “ao vivo”, colocamos duas outras câmeras, uma ao lado da “ao vivo”, e outra mais próxima ao palco, do lado direito da platéia. Essas câmeras gravariam com mini-DV e teríamos chance de fazer uma edição mais elaborada, com mudança de planos e angulações. Se duas câmeras filmam a mesma coisa, é fundamental sincronizá-las. Seria a função da claquete. Nós fazíamos no “olhômetro”: três, dois, um – um olhava para o outro e apertava REC.

Até que deu mais ou menos certo. Achamos que o lance do DVD não era, necessariamente, inserir todas as palestras e mesas (até porque temos o limite de mídia de 4.7GB ou duas horas de gravação na qualidade EP). Tínhamos que editar no máximo trinta minutos que capturariam, na medida do possível, o espírito do evento.

Então, de noite, quando as palestras acabavam, uns iam jantar, outros iam encher a cara no bar. O pessoal do vídeo tinha que agilizar tudo para o dia seguinte. O conteúdo das fitas do dia era capturado direto para um PC, por cabo firewire, e, se possível, a edição do dia já era feita. Isso porque era difícil trabalhar com arquivos de mais de 20GB por vez.

Nosso amadorismo prejudicou o resultado final. Gravamos na melhor resolução – formato AVI -, mas o DVD (todos eles, desde o camelô com “Tropa de Elite” à edição especial gold deluxe de “O Senhor dos Anéis”) compacta para o formato MPEG2, que ocupa um terço do tamanho do AVI. Mas como nos dividimos para editar as palestras e mesas, alguns exportaram em mpeg2-dvd, outros em outras formas de mpeg-2. Não sei por que, na hora de jogar tudo no DVD alguns arquivos não eram lidos.

Minha solução, pensada no auge do nervosismo: reconverter tudo para AVI e jogar em AVI no programa, que, por sua vez, readapta o formato para mpeg2 automaticamente.

Só fiz isso porque tive o auxílio de uma máquina potente e de um HD externo. Mas creio ter feito uma das piores coisas. Apesar de ter consultado algumas pessoas para saber se essa reconversão prejudicaria a qualidade – e esses consultores terem respondido “não” -, me pareceu, vendo o resultado final, que estraguei as imagens.

Dois

Eu pensava que era fácil autorar um DVD. Com os vídeos na mão era só jogar tudo, colocar um menu, umas letrinhas e listo. Mas, de novo, parte por amadorismo e parte por trabalhar com muitos arquivos pesados, demorei mais do que esperava.

Nenhum programa – desses tipo Roxio ou “faça seu DVD em five minutes” – servia para minha idéia de DVD, com menus animados, fontes coloridas, música de fundo. Optei pelo Adobe Encore, o mais profissional dos programas de autoração.

Foi difícil aprender o básico. Algumas coisas tive que readaptar. Até agora não sei por que o programa não aceitou o menu animado. Tive que usar uma figura estática do photoshop. O som no menu deu problema e travou infinitas vezes na hora de terminar (depois de testes bem sucedidos, diga-se de passagem). Tive que deixar sem som.

Resumo: foram jogados no lixo 12 mídias de DVD. As últimas por mais amadorismo: eu esqueci que, para rodar em aparelhos de DVDs, a velocidade de gravação deve ser bem baixa. Nervoso que estava, coloquei em 4x, mas 8x já dá conta do recado.

Finalmente, depois de muito trabalho e tensão, o primeiro DVD da Semana do Jornalismo estava pronto. Não do jeito bom, não do modo ideal (a qualidade de imagem deixou a desejar, a edição, cortes e planos, podia ser melhor, o som nas entrevistas deixou (muito) a desejar, faltou equalizar o som de tudo, a cobertura do churrasco do Dalton devia ter sido mais contundente), mas estava pronto.

Entrevistas

Só um DVD com o compacto das palestras, nos parecia, muito pouco. Desde o começo, tínhamos a idéia de entrevistar alguns convidados. Tínhamos que aproveitar a oportunidade de encontrar os caras bambas do Jornalismo que viriam.

De início, veio a idéia de um bate-papo antes de entrevistas. Mais do que uma lista de perguntas prontas, no estilo de alguém que precisa preencher um relatório (ou pauta, como chamam por aí), o objetivo era conversar, conhecer as idéias daquele pessoal, bem no estilo das propostas de Cremilda Medina e o famoso diálogo possível. Mais ou menos como escreve Arlindo Machado no livro A televisão levada a sério:

“A eficiência do diálogo na televisão (em nosso caso, para o DVD), depende de uma autonomia real (...). Não pode haver debate quando há o constrangimento de um script determinando o que se deve dizer, de que maneira dizer, ou em que circunstância intervir”.

Enfim: diálogos. E longe da produção do estúdio. Queríamos ir até o lugar onde os convidados estavam, quem sabe gravar com a praia de fundo. Mas a idéia não deu certo. Precisávamos de carros para chegar, baterias potentes (só disponibilizadas para as câmeras de TCC) e microfones de lapela que não sofressem interferências.

Resolvemos usar o estúdio da UFSC mesmo. Então tínhamos que arrumá-lo. Logo na segunda-feira, fiquei um bom tempo conversando com Henrique Guião, do Labtele, sobre nossa propostas, sobre luzes, sobre locais onde o entrevistado ficaria mais bem posicionado. Ele fez a cenografia e as luzes. Optamos planos que mostrassem os bastidores: a câmera aparecendo, a televisão (-zinha) de fundo, etc.

Com a produção pronta fomos “para o ar” com Fred Melo Paiva. Eu e Fernanda Dutra. Eu, com uma folha na mão; ela, com um caderninho. Mas não estava escrito nada nem comigo, nem com ela. Nada melhor para conversar em vez de entrevistar.

Com o resto das entrevistas foi mais ou menos a mesma coisa. A idéia era deixar livre para participar das entrevistas quem quisesse, não só para o DVD da Semana, mas para outras atividades do curso.

Acho que deu mais ou menos certo, com exceção (de novo) da qualidade da imagem e, principalmente do áudio. A tentativa de conversa, não tanto. Pareceu entrevista mesmo no final das contas.

Final

Temos, obviamente, muito (muitíssimo) que aprender e melhorar. De qualquer forma, para um primeiro experimento, me pareceu bom.

Para as próximas semanas, acho que deve ter uma equipe fixa só para se dedicar aos vídeos e à produção de DVD. Quanto mais gente comprometida com o resultado final tiver nessa área, a carga (pesadíssima) vai ser aliviada. É um trabalho estressante e exaustivo, mas vale a pena quando se chega no produto final. Mesmo sem menus animados nem sons de fundo.

FIZ+Sotaques I

O programa FIZ+Sotaques é um tipo – pioneiro, diga-se de passagem – de jornalismo colaborativo. Funciona da seguinte forma: os videorrepórteres espalhados por algumas partes do Brasil (não todas, infelizmente, e a maioria ainda na região sudeste e sul) encontram gente interessante que ajude a compor um quadro plural sobre um determinado tema. Daí o título "Sotaques" (o "FIZ" é por ser ligado ao canal da editora Abril, o FIZTV).

Assim, com todas as entrevistas e imagens de apoio enviadas para a sede, o programa é editado com base nas falas das pessoas, sem o aparecimento (muitas vezes desnecessários) de um repórter asséptico ou da chamada voice-over (ou voz de Deus).

Eu participo firmemente há umas seis ou sete edições e. preparando minha parte para ser exibida toda segunda-feira, às 22h45 no FIZTV (www.fiztv.com.br) – e no canal 16 da TVA analógica e no canal 20 da TVA digital, em São Paulo (capital e interior), Santa Catarina (Florianópolis e Camboriú), Paraná (Curitiba e Foz do Iguaçu), Rio de Janeiro (capital) e Minas Gerais (Uberlândia) - eu aprendi bastante muita coisa, a maioria delas dificilmente de ser veiculada por se tratar de minha relação subjetiva com os temas e, principalmente, com os entrevistados.

O Fiz+Sotaques tem o diferencial da história ser contada pela voz dos diversos entrevistados, com os sotaques característicos deles. Mas não sejamos ingênuos. Isso é simplesmente a linguagem que adotamos. A edição está presente como em todos os outros produtos jornalísticos e o resultado não deixa de ser o recorte que nós, jornalistas, demos ao tema. Me parece, porém, que a história pela na voz das pessoas é mais interessante, dá um ar mais do tipo "a história deles contada por eles" (e daí o slogan do programa: "Fiz+Sotaques: jornalismo no plural").

Me fascina esse método – bem utilizado pelo documentarista Eduardo Coutinho – por ser diferente da linguagem que se usa habitualmente na maioria dos veículos de TV, em que o repórter aparece mais como o doutrinador, o sabidão, ainda que, repito, as várias vozes estejam a favor de uma edição.

O programa inteiro pode ser visto em www.sotaquesdobrasil.blogspot.com

Abaixo, o último programa, dividido em dois blocos:



¡¡Películas!!













Eu tenho um vício, uma coisa que muitas vezes me atrapalha a vida. Eu largo os estudos e o trabalho para depois, esqueço das leituras básicas da faculdade e cancelo compromissos. Não é droga, não é álcool, nem chocolate. O meu problema é com filmes.

Acontece de repente. Surge uma ordem no meu cérebro. Sou obrigado a cumprí-la no instante em que ela aparece. Ou, no máximo, quando não é possível ter um DVD na hora – como num ponto de ônibus, na sala de aula ou no meio de uma festa -, até dá para planejar para depois, desde que o depois não demore muito.

“Preciso ver um filme.” Chega a ser uma necessidade. Tudo fica para outra hora. Se tenho muitas coisas para fazer, minha mente perturbada acaba bolando uma estratégia para que eu possa saciar o vício sem muita culpa.

É o que está acontecendo agora. Quando eu penso que devia – e em muitos casos, devia mesmo – estar fazendo outra coisa que não assistindo a uma película, meu pensamento me diz que ver esse filme vai me fazer bem.

A desculpa do momento só funciona com filmes em inglês. “É para desenvolver vocabulário e fluência na língua”, diz uma parte de mim, tirando qualquer peso na consciência. Agora que já tenho as coisas mais difíceis para viver os próximos três meses nos Estados Unidos – o visto norte-americano e financiamento para a viagem -, parece imprescindível assistir tantos filmes falados em inglês quanto possível.
E assim vivemos todos. Cada um com suas manias e vícios...