Uma ficção diferente das outras?

Consuelo Lins, no texto "Documentário: uma ficção diferente das outras?" define documentário como a forma de cinema que sempre se apoiou na imagem concebida como uma boa representação do real.

"Com mais ou menos paixão, os movimentos dessa forma de cinema procuraram constantemente um melhor adequação entre a imagem e o mundo, entre a representação e a realidade, pela utilização de certas técnicas, práticas e estéticas, qualificadas então como mais aptas do que outras para capturar a realidade e o mundo."


Para isso, ela estabelece cinco pontos de partida:

1) Todo documentário é um artefato construído por blocos de espaço-tempo, fabricando seus efeitos, impressões, sensações, pontos de vista, visões de mundo.

2) No entanto, por mais artificial que seja a imagem automática, há sempre um “grão de real” que adere à imagem e ultrapassa toda figuração (=natureza paradoxal);

3) Não há técnica, metodologia ou estética mais aptas que outras para captar o real e o mundo;

4) O ato de filmar implica uma metamorfose daqueles que filmam e dos que são filmados, que pode ser assumida ou disfarçadas por convenções estabelecidas;

5) O documentário não tem uma essência realista e não é necessariamente mais próximo da realidade do que a ficção. Ele foi criado foi criado a partir dessa crença, que é na verdade uma invenção, produzida por práticas e discursos específicos. Isso não impede que essa forma de cinema tenha aberto belas vias para o cinema em geral.

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