Entre choques e crises

Na 34ª Bienal Internacional do Livro de Buenos Aires, fui atraído por um filme que estava passando no stand da Editorial Paidós. Vi as imagens de presos sendo eletrocutados em contraste a um ambiente branco de neve. O filme era uma publicidade muito inteligente do novo livro da jornalista e economista canadense Naomi Klein.

Sob o título A Doutrina do Choque, a autora expõe sua tese de que os desastres naturais de nosso século, bem como as guerras e o terrorismo são cenários de uma política de choque impetrada pelo neoliberalismo. Ela parte da idéia de que o choque, que causa confusão e desnorteamento nas pessoas, é parte integrante de um fenômeno político causado pela globalização.

Na entrevista que concedeu ao periódico cultural Ñ, do jornal El Clarin de 26 de abril, Naomi Klein fala sobre o conceito de crise, fundamental para entender o que vivemos hoje, a guerra do Iraque, o combate ao chamado terrorismo. A crise do 11 de setembro, a crise do furacão Katrina, as crises que são necessárias para desestabilizar a população e, assim, implementar políticas que não seriam facilmente aceitas, caso não tivéssemos em (ela de novo) crise.

E, pensando bem, essa idéia está presente na implementação das ditaduras latino-americanas da segunda metade do século XX. A crise por que fez-se acreditar que as nações estavam passando, a ameaça comunista e a instabilidade econômica buscavam legitimar o novo governo, a chamada Revolução.

As políticas dos militares que, apoiados pelos Estados Unidos, foram astutos para negar aquilo que o grande jornalista argentino, Rodolfo Walsh – ele mesmo “desaparecido” nos centros de detenção do governo militar – acusava publicamente: usar a violência massiva para conseguir objetivos econômicos que mantinham o povo aterrorizado e eliminava obstáculos que, de outro modo, certamente teriam provocado uma revolta popular.”

A crise que nos faz mudar, que nos faz considerar as coisas de outra forma, que nos faz reavaliar, mas que não é natural. Antes disso, é forçada, provocada, impetrada por uma política que se apóia no medo, na guerra iminente e no estado de sítio.

Foto: www.vagalume.uol.com.ar

Obs: O vídeo da cobertura da 34ª Bienal Internacional do Livro de Buenos Aires está quase pronto.

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