A torre da incompreensão





















A Torre de Babel foi uma tentativa de construir um edifício tão alto a ponto de tocar o céu. Segundo o relato bíblico, Deus não gostou de tamanha ousadia humana e fez com que os trabalhadores começassem a falar em línguas diferentes, de modo que não pudessem mais se comunicar, deixando a obra abandonada. Babel, filme indicado a sete Oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Adriana Barraza e Rinko Kinkuchi), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição) e ganhador do Globo de Ouro de Melhor Filme Drama, traz quatro histórias, todas elas faladas por diferentes idiomas, que apresentam certa ligação.

Dois garotos marroquinos (Said Tarchani e Boubker At El Caid) que manejam um rifle a fim de proteger a pequena criação de cabras da família. Eles “brincam” de atirar até que o mais novo acerta um ônibus repleto de turistas norte-americanos. Ali está o casal Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), que deixaram seus dois filhos nos Estados Unidos sob os cuidados da babá mexicana Amelia (Adriana Barraza), a qual decide levar as crianças ao México para um casamento. Por fim, uma garota japonesa e surda (Kôji Yakusho) tenta aceitar a perda de sua mãe e viver a adolescência.

Dirigido pelo mexicano Alejandro González-Iñarritu (Amores Brutos e 21 gramas), as histórias tendem a se encontrar de forma tensa. O problema de um filme com histórias separadas é o ritmo. É quase impossível para Iñarritu manter um ritmo constante quando a história acaba, naturalmente, sendo umas mais interessantes que as outras, ainda que isso nos deixe ansiosos pela “volta”. Os cortes, que deviam ser suaves, tornam a narrativa lenta. Mas parece que é mesmo essa a intenção do diretor. Além disso, ele utiliza repetidamente a técnica de manter a ação na imagem e a quase mudez no som (isso é bem mais fácil de entender quando se trata da garota surda-muda, mas é usado em quase todas as outras histórias paralelas). Estaria sendo utilizado para demonstrar a incomunicabilidade, seja política, amorosa, por fatores externos ou até por deficiência.

Em uma entrevista de divulgação do filme, o cineasta diz ter um olhar crítico em relação à política externa dos Estados Unidos, no caso em que a turista ferida vira notícia no mundo inteiro antes que ao menos receba ajuda. Além disso, a busca por um culpado, um inimigo em ação contra a América, é feita quase instantaneamente.

O roteiro, do também mexicano Guillermo Arriaga, busca mostrar uma globalização de sentimentos comuns. Dessa forma, o filme levanta temas como intolerância, imigração ilegal, terrorismo, pobreza e violência. As histórias se passam nos Estados Unidos, México, Marrocos e Japão. A intenção seria mostrar a incapacidade de se comunicarem de pessoas de diferentes culturas, nacionalidades e de idiomas distintos. Mas há exceções: o personagem de Brad Pitt, por exemplo, briga com outro turista norte-americano e se entende com um cidadão marroquino que ajuda sua esposa.

A história da japonesa, ainda que gere bons momentos – ela em uma festa de música eletrônica com novos amigos -, está totalmente deslocada do contexto em que se passa o filme. É uma narrativa que daria para fazer um filme inteiro ao invés de deixá-la fora de contexto, o que compromete todo o resto. Além disso, a lentidão da trama e a redundância com que o diretor usa seus recursos técnicos ofuscam as possíveis mensagens que o roteiro visa transmitir, como: simples atos impensados podem gerar conseqüências devastadoras ou os preconceitos com diferentes culturas (aqui, Babel se assemelha a Crash, ganhador do Oscar de Melhor Filme do ano passado).

Sinceramente, não merecia indicação ao Oscar de Filme e muito menos de Direção. Mas, verdade seja dita, se vencer na categoria Melhor Filme, vai ser um filme que não é falado somente na língua inglesa. Uma vitória de diferentes culturas. No mais, um filme superestimado.

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