You´ve got the power!

Muito já se discutiu sobre o incrível poder que a imprensa tem. Poder de dar “vida” ou “morte” a personalidades, poder de decidir e de formar opiniões. Com possibilidades amplas de dar versões dos fatos – sobretudo no jornalismo interpretativo -, a mídia é chamada de Quarto Poder. No filme O Quarto Poder, é justamente ao jornalismo que se atribui essa alcunha, ainda que o título original não tenha tido essa função: Mad City seria algo como “cidade louca”.

Dirigido por Costa-Gravas (diretor de Z – pelo qual ganhou um Oscar - e Desaparecido, um Grande Mistério), é a história de um repórter de televisão, Max Brackett (vivido por Dustin Hoffman), que foi rebaixado na rede de TV em que atua depois de um desentendimento com o âncora do jornal. Trabalhando em uma pequena cidade da Califórnia, ele deve fazer uma matéria simples sobre um museu de história natural. É surpreendido quando um segurança demitido, Sam Baily, (John Travolta) vai pedir seu emprego de volta para a diretora do lugar. O ex-segurança está armado e o museu está cheio de crianças. É então que o repórter tenta convencer o homem a lhe dar uma entrevista exclusiva e promete comover a opinião pública com a triste história de Sam.

O filme faz transparecer a seguinte visão da imprensa: tudo por uma matéria, tudo pela exclusividade, custe o que custar. Munidos desse argumento é que vamos presenciar uma manada de repórteres e cinegrafistas prontos a qualquer coisa pelo chamado furo de reportagem. Eles pagam, corrompem, invadem, atacam, desrespeitam e roubam em um jogo desleal em que acontecimentos são manipulados.

O filme faz pensar. O que é a verdade? Será que ela é importante? No filme, vemos que o conceito é mais subjetivo do que poderíamos imaginar.

Sob a ótica da mídia retratada em O Quarto Poder a verdade não é tão importante assim. As visões que os meios de comunicação – e, por extensão, a opinião pública - têm de Sam são extremamente volúveis e oscilam de acordo com os diferentes interesses envolvidos.

Costa-Gravas imprime um ritmo alucinante em todas as partes do filme e o roteiro – de Tom Matthews – tem mais acertos do que erros. O repórter Max Brackett é brilhantemente interpretado por Hoffman, que reproduz a autoconfiança, egocentrismo, insensatez e a falta de escrúpulos. Ele age defendendo seus próprios interesses. É tão manipulador e mau caráter como qualquer outro de seus colegas. Mas por que não o criticamos tanto quanto aos outros jornalistas? Por que, em alguns momentos, torcemos para que Brackett consiga atingir seus objetivos? Talvez porque ele serve de ponte entre nós e a história e também de elo entre Sam e a opinião pública.

O roteiro prega, ainda, uma caricaturização e um exagero que não caem bem à história. As decisões dos jornalistas fogem, em alguns instantes, daquilo que se poderia considerar verossímil. Essa foi uma decisão dos produtores a fim de pintar com tintas grossas o que a imprensa faz, mas talvez a dose não tenha sido bem adequada.

Como um todo, o filme vale a pena. A dupla de atores tem uma química que sustenta a tensão dramática da narrativa – Travolta está em um de seus melhores papéis.

O mérito da obra, enfim, é discutir com profundidade os limites éticos da cobertura jornalística e ensinar que, afinal, o Quarto Poder é, de fato, muito poderoso.

Nenhum comentário: