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A música, a verdadeira música nos escolhe”, essa é o início da fala de um famoso crítico musical chamado Lester Bangs (Philip Seymour Hoffman) no filme Quase Famosos. A relação das pessoas com a música é, por si só, algo transcendente. O que nos deixa tão ligados a uma sucessão de sons que nos agradam? A música tem poder.

A história de um jovem de 15 anos – fã de rock´n´roll – que consegue um trabalho na revista Rolling Stone para acompanhar a banda Stillwater pelos Estados Unidos foi baseada nas memórias do próprio diretor, Cameron Crowe. Ele teve uma experiência semelhante quando escrevia para a revista Rolling Stone aos 15 anos de idade para acompanhar a turnê da banda Led Zepelin.

No filme, o garoto se chama Wiliam Miller (brilhantemente vivido por Patrick Fugit) e mora em uma casa na qual sua mãe (Francis McDormand) é do tipo superprotetora. Ela vive com o filho e sente-se totalmente na necessidade de lhe dar extremo amparo (“Não use drogas, não use drogas”). Apesar de, tanto Wiliam quanto sua irmã – que deixará a casa depois de completar 18 anos –, sempre terem ouvido que rock´n´roll é subversivo, música do demônio que só fala em sexo e drogas, eles viraram fãs ávidos do gênero musical.

Wiliam consegue, então, um trabalho na revista de música Rolling Stone para acompanhar a turnê de Stillwater, e é nesse caminho que ele vai conhecer o mundo do rock: mulheres, drogas, verdades, envolvimentos pessoais.

O filme trata muito bem da fronteira entre jornalismo e crítica musical. Alguém que possui certo envolvimento é capaz de escrever de modo isento? Deve haver, necessariamente, distinção entre ser jornalista e ser fã? São algumas questões que o filme propõe e tenta responder.

O momento em que o pequeno Wiliam tem o primeiro contato com a música é magnífico. Ele pega os discos que a irmã lhe deu de presente e começa a tocar lentamente as capas dos discos. Seu olhar é de expectativa, afinal está fazendo algo que não é permitido por sua mãe. E, num olhar de êxtase e sublimação, ele acende uma vela e coloca o rock´n´roll. É assim que ele cresce.
O garoto serve de ligação entre o espectador e a história. Assim, fica fácil de nos identificarmos, tanto pelo seu carisma e simpatia quanto pela sua história de vida e seus sonhos. Torcemos para ele conseguir o que deseja e vamos a seu lado acompanhando atônitos às fases de suas realizações.

A simpática história deixa, ao espectador desavisado, uma estranha ligação de fatos inverossímeis (Garoto adolescente contratado pra trabalhar em uma grande revista? Conta outra...) e improváveis coincidências. Mas grande parte disso é a história real do diretor. Direção que segue empolgando em um ritmo vibrante de mistura entre imagens e a excelente trilha sonora. Afinal, um filme sobre rock´n´roll tem que ter um som apropriado.

Realmente, seja por atuações memoráveis (Francis McDormand, Kate Hudson, Patrick Fugit e o excelente Philip Seymour Hoffman), o roteiro notável (de Cameron Crowe) ou a música bem arranjada (Nancy Wilson), o filme é uma agradável surpresa e vale a pena. E viva o rock´n´roll!

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