Psicologia em mim

Eu, sozinho, ali sentado em um banco a céu aberto no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC. Lia atentamente um texto de filosofia, já que minha aula de tarde tinha sido cancelada. Do nada chega uma guria. Vestindo uma blusa rosa e discreta, ela vem com uma voz suave me perguntar se eu poderia participar de um experimento que ela está fazendo em Psicologia.

Solícito – e, cursando Jornalismo, entendo como devemos ajudar os outros (hahaha!) – lá vou eu para o laboratório de Psicologia, no 2º andar do campus do CFH.

- Mas antes eu preciso de mais um voluntário. De preferência do sexo feminino – diz a moça, que estava na 5ª fase de Psicologia. O nome dela eu já esqueci!

E, próximo à lanchonete, ela aborda uma menina gordinha, de cabelos louros e vestida de preto, perguntando a mesma coisa.

- Sim, mas quanto tempo vai levar? – diz a outra, aparentemente apreensiva.
-Ah, uns dez, quinze minutos, no máximo. É um trabalho sobre percepção de formas, a Gestault...
- Ta bom então!

Chegando lá em cima, entro na sala. Não deu tempo de ver bem, mas tinha dois caras sentados nas cadeiras do meio. Era uma sala meio branca, bem arrumada, com vídeo, TV e DVD na estante.

Tímido, me dirijo a uma das cadeiras e aguardo até que a futura psicóloga dê as primeiras instruções e mostre algumas figuras (uma mulher nova ou uma velha; dois rostos ou uma taça), até a última.

- Agora eu quero que vocês me digam qual a linha que mais se parece com essa – disse mostrando a reta que queria que avaliássemos.
- A letra B. – afirmou a guria loira.
- Ah! É a letra B, de certo. – disseram os dois guris, convictos.
Minha vez. A letra B era parecida, mas não tinha cara de ser igual a outra. Hum... Duas opções: ir por mim mesmo, pelo que eu realmente achava, ou seguir o grupo e não me comprometer.
- Me parece que é a letra A, mas eu não tenho certeza. – falei, com certo receio.

Daí a mulher guardou as folhas e foi retirando da sala as pessoas, na ordem. Assim que a menina loira saiu, eu perguntei, batendo os dedos na mesa, tentando ser simpático:

- Vocês dois fazem que curso? – aos dois rapazes.
- Biologia. – respondeu, acanhado, o que estava no meu lado.

Só podiam ser de Biologia. A feição e os cabelos não mentiam. Era característico, ao menos na minha opinião posterior.

- E ela também pegou vocês aí jogados pelo campus. – eu, agora tentando descontrair um pouco.

Mal tiveram tempo de dizer um “aham” pouco audível: a pesquisadora voltou e retirou da sala um, e, com pequeno intervalo de tempo, o outro.

Por fim só fiquei eu no aposento. Poucos segundos até ela voltar, séria. Fechou a porta e sentou na minha frente, colocando um papel entre nós.

- Pedro, eu tinha dito que esse era um teste de percepção, quando na verdade não é. É um trabalho de psicologia social. Aqueles que estavam com você eram atores, que fazem Psicologia comigo. Você foi filmado – disse apontando as câmeras nos cantos da parede - e gostaria da sua autorização para usá-lo como objeto de pesquisa.

Sentindo-me ludibriado, eu não pude fazer nada. Tive vontade de rir da minha cara de palhaço. Ora, como eu não percebi as câmeras na sala, os atores, a ordem em que sentamos, as figuras sendo mostradas e as opiniões deles? Aaaaahhh!!!

-Tudo bem, mas eu acho que não vou servir muito. Naquele exame das linhas eu respondi contra eles. – disse, assinando a autorização que ela pediu.
- Ah! Sem problemas. Isso tudo a gente vê depois.
Passei meu e-mail pra ela, a fim de que ela transmitisse o resultado da pesquisa que está sendo realizada com umas 20 pessoas.
Sem graça, deixei a sala, murmurando um simples “até mais”, ou algo do tipo, para os atores que ajudaram a me enganar.

Mas que foi engraçado, foi! E eles devem estar rindo até agora!

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