Me pegaram também!

Eu sempre pensei que séries de TV eram melhores do que novelas apesar de terem o mesmo efeito nocivo. Não haveria de ser “saudável” alguém que passa parte de sua vida assistindo a esse tipo de televisão (se você perde um, dois, três, quarenta capítulos ainda consegue acompanhar perfeitamente bem). Eu já assisti a novelas inteiras antes e sei que elas são dotadas de previsibilidade e que a intenção dos realizadores é te deixar preso à tela pelo maior tempo possível enquanto eles ganham dinheiro. Não é assim? Pois é. Para mim, as séries eram quase a mesma coisa, com a vantagem de serem mais bem elaboradas, divididas por temas (coisa que não ocorre nas novelas, que são um “mix” de vários gêneros). Mas uma série me fisgou de forma que não consigo mais abandoná-la. Trata-se da história de um grupo de pessoas que fica preso em uma ilha onde coisas misteriosas acontecem a todo o momento. Obviamente, estou falando de Lost.

As novelas são exibidas diariamente. As séries podem ser também, mas é comum que sejam apresentadas uma vez por semana. Antes de conhecer Lost, eu tinha essa discriminação em relação a tais programas. Malhação é um horror: previsível, mal feita e excessivamente comercial (nunca agüentei ver o guri bebendo coca-cola com close no rótulo da lata, por exemplo), assim como outras novelas que, quanto mais você assiste, mais nada acontece de novo. Viramos escravos, uma vez que os programas são feitos de propósito para te capturar e não soltar mais.

Eu tenho convicção de que os produtores ficam todos sentados em confortáveis poltronas bebendo whisky em confraria enquanto dão risadas por terem roubado mais um tempo da vida das pessoas. Seriam “sugadores de tempo”. Ora, já tentou se perguntar o que acontece de significativo em um único episódio. Muitas vezes a resposta é: nada. Sim, nada acontece de importante. Foi só um jeito de te enrolar um pouco mais na programação.

Isso faz parte do jogo. Normal. Depende de ti sair do ciclo vicioso dos programas. Assim foi ao assistir a um capítulo de Lost. Estava deitado na cama de meus pais, com a minha mãe. Começou a série, ela me explicou um pouco sobre a trama e eu acabei acompanhando, descompromissadamente. No primeiro intervalo, eu lembro de ter dito que odiava séries porque elas te prendem, te viciam e muitas vezes você não ganha nada com isso. Apesar desse meu pensamento, vi aquele episódio até o fim. E no dia seguinte também; e no outro, e no outro, e no outro, e já era. Tinha sido pego.

O fato de eles te enrolarem é o pior. Algumas séries duram anos. Lost está em sua terceira temporada. Assisti a primeira pela metade, a segunda inteira (santo computador, santa internet!) e a terceira começou a ser transmitida agora. Suponho que acabe por aí, senão terei de ficar mais tempo preso nas garras dos realizadores para conhecer o final. Espero que, ao contrário de minhas experiências anteriores, eu ganhe alguma coisa assistindo a tantas horas de televisão. Um pouco de conhecimento, quem sabe, em vez de alienação.

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