São Luis do Paraitinga: o carnaval dos mais de 40 mil

(www.nyt.com)



Juca Teles


Amora em Flor


Boca do povo


São palavras de amor



Essa é a estrofe de abertura da música mais tradicional do carnaval de São Luis da Paraitinga, cidade localizada a cinqüenta minutos de Taubaté, em São Paulo, e conhecida como “opção de bom carnaval fora dos grandes centros” pelo jornal norte-americano The New York Times. Pois é, ao lado de Laguna (SC), Ouro Preto e Diamantina (MG) e Morro de São Paulo (BA), a pequena cidade de São Luis, com pouco mais de dez mil habitantes, viu passar, no sábado de carnaval, 40 mil pessoas por suas ruas estreitas. Todas ansiosas por um dos poucos carnavais de rua que fazem questão de preservar a marchinha como música oficial.

Acontece que um decreto oficial da prefeitura proibiu ritmos musicais como samba, axé, funk e pagode. É uma tentativa protecionista de manter os blocos com temas e canções específicos, que remetem ao início da década de 20, quando os moradores da zona rural comemoravam o carnaval em bailes de salão antes da missa de quarta-feira de cinzas.

Naquele tempo, foram criados os bonecões, feitos em papel machê para representar a cultura popular, como o Juca Teles, inventado por um antigo oficial de Justiça e poeta da cidade. Além dele, há outros personagens que fazem qualquer folião ficar com as músicas impregnadas na memória, como o motorista Barbosa e a dona Maricota, para não falar da exótica maluquice da “buzina paralisadora”. É assim: várias pessoas juntas, dançando e pulando e cantando até que alguém aperta a buzina. Todos param no primeiro toque e ficam na posição em que estavam. Depois, ao ouvirem o segundo toque, toda a dança recomeça.

Béin! Pausa. Béin, béin!

No domingo de carnaval, eles dois estavam comendo frango caipira na hora do almoço. Era bom abastecer o estômago para o dia de folia em São Luis do Paraitinga.

Depois do almoço, pegaram uma van na rodoviária de Taubaté rumo ao que consideravam “o melhor carnaval de rua do Brasil”. Ali, uma hora depois, estavam no supermercado da cidade para misturar vodca barata a duas caixinhas de suco “del Valle” e beber uma adaptação do drinque “sex on the beach”.

Indo alegres à praça principal, um deles diz para uma menina loira que passava ao lado da amiga morena:

- Olha só! Vc é do Big Brother, não é?
Ela, rindo, pergunta:
- Big Brother?
- É, não é? Você não foi a última eliminada do BBB?
- Hahaha! Eu não sei. Nem assisto Big Brother.

E começaram a conversar. Juntaram os quatro e eles dividiram a bebida com elas. Três litros só para os dois ia ser demais mesmo. Eles compartilhavam o “drinque” e elas buscavam copos com gelo nos bares ao lado. Uma cooperação harmônica entre as espécies.

A morena bebeu demais e saiu com outra amiga loira para “procurar gatos” e dar “beijos coletivos”. A loira que sobrou apresentou outra amiga aos garotos. Um deles ficou com a loira e o outro, com a outra.

E foi assim pela tarde toda. Já de noitinha, a primeira amiga morena voltou bêbada e todos tiveram que levá-la para casa da avó de uma delas. Um sacrifício foi para acompanharem a morena bêbada nos lances de degraus três ruas acima do coreto central da praça.

Conseguiram, afinal. E todas ficaram na casa.

Os dois, vendo-se livres do que apelidaram de “casamento na balada”, seguiram correndo para buscar duas cervejas e participar do bloco “Ninguém é de Ninguém”. Isso era lá pela 0h30.

Imagine só a surpresa deles quando olham pra trás e dão de cara com as duas meninas que tinham acabado de deixar na casa lá em cima. Elas passam por eles cantando a marchinha, enredo do bloco que desfilava nas ruas:

Ninguém é de ninguém, mas todo mundo
É de todo mundo
No carnaval.


Assim é o carnaval.

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