Implosão

Eu aprendi a ter vergonha.
Eu aprendi a calar a boca, a olhar pra baixo e andar torto, por causa de um joelho dolorido, um pouco torto, meio manco, tipo um pinguim.
Eu aprendi a baixar os olhos e, ainda assim, olhar para os lados. E a ver a gente. Ver o velho senhor idoso, sentado no metrô com uma sacola de compras. Ou a jovem mãe japonesa, que nem fala português direito, com o filhinho no colo não querer sentar porque vai descer na próxima estação.

Eu aprendi sobre os jovens de hoje. Que muitos não estão por aí só pela putaria. Que muitos, não sei se a minoria, mas isso nem importa tanto, que muitos não se importam só em fazer muito sexo ou ficar loucos com álcool e/ou outras substâncias.
Eu aprendi que tem gente que já teve histórico negativo de traição e que trai mesmo assim. E aprendi que tem gente que não trai, que tem gente que acredita e, se acredita é em alguma coisa.

Eu aprendi que tem gente que gosta de beijar homens e beijar mulheres e às vezes os dois ao mesmo tempo, mas que abre mão de tudo isso por um amor verdadeiro.

Eu aprendi que a vida é feita de pontos altos e baixos, só que o ponto alto demora muito mais, enquanto que, para chegar ao ponto baixo, precisa de pouca coisa, às vezes minutos, segundos ou apenas um instante.

Eu aprendi a ser exilado. Exilado em mim mesmo. E foi assim que eu aprendi, mas só aprendi porque foi comigo mesmo, que todo mundo precisa de uma segunda oportunidade e que, talvez, as pessoas sejam muito, muito melhores depois que ela acontece.

Se acontece. Porque eu aprendi que tem muita gente que não tem outra chance.

Eu aprendi a não conseguir rir mais.

Aprendi a fazer uma cara tão amargurada, que eu até me assusto quando me olho no espelho. E daí eu rio, mas não mais do que dois segundos.

Aprendi que você tem sempre que fazer alguma coisa, nem que esta coisa seja comprar uma passagem para um lugar qualquer do mapa para tentar recomeçar. Tudo, tudo mesmo, amigos, equipes de trabalho, uma vida nova.

Aprendi que para isso é preciso ter coragem. Ou ser covarde.

Aprendi que existem certos sentimentos. E que a chuva e água da chuva limpam e podem revigorar o ânimo das pessoas. Mas aprendi, também, que há certos casos em que nem um dilúvio, junto com um mergulho em alto mar, somado a todo o vento dos furacões, mais trovões e trovoadas com proporções atômicas, conseguem tirar uma coisa que está lá dentro, bem no fundo. Talvez tão lá no fundo que já nem se pode notar que tem alguma coisa ali, porque é muito semelhante com o vazio.

Aprendi que as estrelas podem fazer companhias, mas que também podem nos deixar solitários. Depende da perspectiva. E, assim, eu aprendi que tudo depende de como você olha, mas que o olhar não depende só de você.

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