Dia 5 – 08/01/08 – terça

Depois de 21 horas de viagem de Floripa para Campo Grande, vivemos ainda momentos de luxo na casa de nosso amigo Tonetti, com direito a comida boa e banho na capital do Mato Grosso do Sul.

Depois de um jogo de sinuca e cerveja, viajamos mais 12 horas de ônibus em direção à Corumbá.

Hoje, pela manhã, chegamos de táxi à fronteira, onde dois oficiais bolivianos fardados checaram nossos documentos e carimbaram os passaportes. No táxi que tomamos em seguida, com destino à cidade de Porto Quijarro, tivemos o primeiro contato com o novo país e sua população: uma paisagem de terra batida com casas muito simples e mendigos na rua.

Francis, o taxista, se exaltou quando tocamos no assunto “Evo Morales”. Ele não concorda com certas medidas do presidente, mas lhe agrada o fato de Evo representar uma mudança na sucessão de governantes brancos.

Em Porto Quijarro, buscando uma passagem para o chamado “trem da morte”, conhecemos Rojas, um senhor de 67 anos que nos pede para vigiar sua bagagem enquanto vai telefonar de seu celular Nokia. É um modelo antigo, daquele estilo vulgarmente conhecido com “tijolão”.
A chuva na cidade é intermitente. Há goteiras dentro do terminal e muita gente esperando para entrar no trem, que atrasa quase uma hora. Lá dentro, ao lado das poltronas duplas pouco confortáveis, está Enrique Roca Ayala, um pedreiro que trabalha no sistema de iluminacão de Porto Quijarro. Junto dele viaja Felipe de Lima, um garoto de seis anos que nasceu em Campo Grande. O pai de Felipe, junto de Enrique, vendia pamonhas nas estações de trem até que a bebida cortou a relacao dos dois. "Ele comecou a ter problemas com álcool", conta o pedeiro que também é pastor protestante.

Felipe pronto pra briga

O pequeno Felipe, um guri que não pára de brincar com um broche dos Guns`n Roses, está sob os cuidados de Enrique, que levará a crianca até o povoado de Fontana. Os olhos brilhantes e o sorriso do pequeno Felipe sao revigorantes e fazem a viagem ser mais suportável.

Eles deixaram o trem faz tempo. Nesse meio tempo, as paradas nas estações são entrecortadas pelos apitos das mulheres e criancas que vagueiam pelos corredores vendendo comidas e bebidas - limonadas em baldes para quem se dispuser a pagar um boliviano pelo copo. A propósito, um real brasileiro vale 3,50 bolivianos no mercado paralelo.
Agora, 21h, estamos longe do destino e de saco cheio com a viagem que, ainda que cansativa, ainda não nos mostrou razão para se chamar “da morte”. Ao menos não para nós.


Dentro do trem


...

Vendedora no trem: crianças trabalhadoras


0h47 – o trem anda e pára com uma frequência irritante. Parece quebrado. Os bolivianos que nos desculpem, mas não consigo deixar de pensar: como é que fui me meter nessa?

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