11 momentos

1º momento – a chegada tensa, ela é direta:
- O que você quer falar comigo?

2º momento – o silêncio; afasta, volta, carinhos burocráticos.

3º momento – não sei, sai da sala, vai pro quarto.

4º momento – abraçados, de lado, na cama, os óculos longe, ele pega e os põe juntos. Um, vermelho, virado de ponta cabela; o outro, do lado certo. Opostos e juntos. Desfoque.

5º momento – a discussão comportada, discordam, ele afasta os óculos de novo, ela não percebe.

6º momento – (na verdade antes do 5º) – ele chora, entende ou começa a entender o ciclo vicioso. Ela diz: a merda é que eu te conheço; como assim?; ... ; fala! ; eu sei que você vai preferir a amizade; ... ; ...; ...; a merda é que é também por isso que eu gosto de ti. – Ele chora ainda mais.

7º momento – ela reclama do “tsc” que ele faz com frequencia, ele imagina (ou conclui, como preferir) que faz parte de um filme. Um filme clichê – ela diz. Porque tem sempre que vencer os maus, as adversidades, o casal; mas não, ele imagina que está dentro de um filme, com alguém que o controla (ele não sabe bem quem), um títere, um personagens cujas ações já se sabe de antemão, o ciclo. Ela sabe.

8º momento – o sexo fragmentado e rápido. São quase 14h.

9º momento – o abraço de lado de novo, a conversa; ele pede um tempo precisa de um tempo, logo ela (e ele) vai dizer (ou pensar em dizer): clichê!

10º momento – ele fala uma coisa, “tsc” (lembrando depois que ela não gosta); desculpa-se, fala uma coisa, mas logo se lembra de que ela não vai gostar; palavra inapropriada; ele corrije rápido, muda de palavra, imediatamente se lembrando de que faz parte de um filme em que o roteirista riscou a palavra que ele tinha dito. Desfoque.

11º momento – tudo fica igual (houve mudança), ou seja, nada muito definido, mas aquilo não lhe sai da cabeça, de que é personagem dentro do filme, alguém manda, ele lembra depois que lá entre o 7º e o 8º momentos, ela mudou de tom, ficou meio séria sobre a história do filme, dizendo que era ele quem escolhia, ele quem fazia o filme e que as opções seriam clichês devido unicamente às escolhas dele (“coloca e fecha numa caixinha e abre só na primavera”, palavras dela), mas ela não o enganaria, ele está mesmo num filme, títere, alguém tá dirigindo, o Grande Enunciador, ele diz, e sai andando e pensando, justamente pensando que tudo passa e todo pensamento não são propriamente dele, mas propriedade do Enunciador; aí ele tem o insight brilhante de se rebelar, bolar um jeito de se voltar contra o Big Boss e tenta pensar em algo, alguma coisa para recuperar, se é que ele teve um dia, a liberdade; daí ele pensa que tudo, mesmo o pensamento rebelde, é propriedade do Enunciador e continua pensando sobre isso enquanto enquadra com os olhos os próprios pés andando na rua e imagina que aqueles passos não são fruto de sua própria vontade. Desfoque.

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