MUY INTERESANTE pero no tanto...

A versão argentina (também comercializada no Uruguai e no Paraguai) da SUPER INTERESSANTE (não sei qual veio primeiro, se a nossa ou a deles), é muito (muitíssimo) inferior à nossa.

Muy Interesante traz, nesse mês, uma matéria de capa sobre a mente humana com os seguintes dizeres: “Mente Criminal: podremos predecir el delicto? La ciencia investiga el cerebro para saber si el delincuente dice la verdad”.

Na primeira página, quem sabe a melhor da revista, uma charge de folha inteira de Quino, o criador da Mafalda, a menina que fala de política nos termos mais comuns e ingênuos (será?) do cotidiano.

A diagramação, aqui, é um pouco mais sóbria, digamos. Há espaços em branco sin dramas e não há a característica profusão de cores e imagens de infográfico da SUPERINTERESSANTE. Quem sabe um meio termo seria o ideal, afinal os infográficos são uma parte importante na transmissão da mensagem, principalmente quando eles estão na medida certa: nem de mais, nem de menos.

No olho da matéria de capa já perdemos a vontade de ler o texto: “com a ajuda de técnicas modernas biomédicas, os cientistas tentam associar condutas delitivas com áreas do cérebro. Mas ninguém tem ainda a ultima palavra sobre as raízes profundas da delinqüência. Para que eu precisaria ler o resto? O que o texto poderia me acrescentar?

Com um texto picotado em muitíssimos intertítulos (média de dois por página) e com mesmo estilo em todas as matérias (foram jornalistas ou computadores quem escreveram?), a matéria de capa traz algumas coisas legais, mais questionamentos, como o fato de, nos EUA, o país dos processos, muita gente estar sendo absolvida de crimes pelo estudo do cérebro. Algo como “meu cérebro é o criminoso; eu, não” - o que um professor de Direito e Psiquiatría da Pensilvania rechaça: “Algumas pessoas com transtornos cerebrais semelhantes podem não serem violentas. Os cérebros não cometem crimes, quem os comete são as pessoas”. Isso nos leva ao “entorno” de um indivíduo, ao meio em que vive, em que foi criado, elementos que, de certa forma, influem seu comportamento futuro.

E a matéria surpreende pela discussão que exibe: “nada determina o comportamento dos indivíduos como os processos que têm lugar no cérebro”, diz um professor de Psicologia de Harvard.

É, não estava tãããão mal. O fechamento é assim: “De fato, pode a neurociência contribuir a criar um mundo mais seguro? Ninguém pode hoje assegurar isso. Como não se pode dizer que seja um argumento irrevogável para não levar um criminoso à prisão”. Conclusão que a que já havíamos sido apresentados, mesmo antes de ler o texto.

Ah, há um box preguiçoso na última página. É um depoimento de um doutor em neurologia escrito por ele, com seus jargões médicos misteriosos. A função do jornalista seria entrevistar o médico e fazer a decodificação ou tradução para seus leitores, não? Ou se esqueceram de que não sou médico nem estudante de medicina?

Outro sinal de preguiça, tosquice e má vontade é o trecho do livro que o físico Stephen Hawking escreveu com sua filha Lucy. Publicaram uma parte do livro dele e acham isso o máximo. Deve ser para fazer publicidade, afinal a revista “sorteia dez livros entre as primeiras 100 cartas que chegarem à redação”. Mas mesmo para uma matéria publicitária seria interessante um texto jornalístico. A vida de Stephen Hawking, afinal, sempre vale boas notas.

E a matéria mais bem-humorada (e a melhor da edição): “Con la boca abierta”. Vamos falar de bocejo, por que bocejamos, para que serve o bocejo? Comigo foram três ou quatro bocejos entre as cinco páginas. Não porque estavam chatas de ler e sim porque o bocejo é uma das condutas mais contagiosas. É só ver alguém bocejando que você acaba também o imitando. E isso só entre humanos e certos primatas. Crianças antes dos 5 anos não se contagiam e autistas também não. Incapacidade de conectar-se com o próximo?

Interessante, ao menos, é a idéia de que o bocejo tenha uma função evolutiva fundamental. Como as pombas. Uma pomba vê um pedestre se aproximando e voa, sendo seguida imediatamente por suas companheiras, ainda que essas ignorem a causa do alarme. Então, o bocejo poderia ser uma ferramenta para propagar o estágio de vigilância em um grupo. Hum... E eu que pensava que era só para entrar oxigênio no cérebro (argumento que a Ciência já desmentiu com experiências usando gás carbônico).

Seguimos com matérias não tão interessantes, ou com pauta interessante, mas mal aproveitadas pelos repórteres e editores, como a “Visita à fábrica de gênios” no MIT (Insitituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA) e uma matéria histórica sobre Tutmosis III.

Se a nossa SUPERINTERESSANTE se destaca sobretudo pelos infográficos, a MUYINTERESANTE traz fotos muito bem feitas, como na série sobre as abelhas. Mas nada mais que isso.

Termino a revista com um jogo de sodoku, talvez mais interessante do que a revista do mês.

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