Havia algo estragado ali dentro

Primeiro o coração disparou. Tanto e tão forte que quase saiu do peito. Depois veio a sensação de vazio, algo estragado, um podre interior que deixa tudo melancolicamente triste. Onde está a substância do cérebro que devia ser expelida agora para contrabalancear a sensação depressiva? Onde está a alegria?

Tudo isso era fruto de um pesadelo agitado, um sonho atemorizador que lhe fez sentir-se ruim. Estava mal, queria desligar-se de tudo sem entender o porquê.

A sala estava mal iluminada pelas primeiras horas da manhã. Na parede antes de chegar ao teto, os três triângulos filtravam as luzes iniciais do dia. Ele estava deitado no sofá-cama em uma sala em que outras cinco pessoas também dormiam, todas profundamente.

Foi tudo rápido e instantâneo. Ele acordou assustado pelo sonho ruim, mas já não se lembrava de quase nada quando abriu os olhos. Só do olhar arregalado do companheiro com quem dividia o sofá-cama. Sustos noturnos, sonambulismo ou qualquer coisa que o valha...

Assim que acordou, sentiu que não era a única pessoa acordada - havia alguém que não se encontrava ali quando ele foi se deitar na noite anterior.

De repente, compreendeu. Não teve tempo de refletir. A dor aumentava, mas tudo o que ele teve que fazer foi aceitá-la e se levantar de uma vez por todas. Era hora de ir.

Ao pé da escada, como lhe dissera a intuição, havia uma mulher alta, de costas, vestindo um capuz e um sobretudo negros. Quando sentiu sua presença, um arrepio rápido, frio e cortante lhe passou pelo corpo. Ele já tinha entendido e não pôde, por falta de tempo ou de alguma coisa mais forte, refletir no que fazia. Sem falar nada, com passos inseguros e instáveis, ele se limitou a seguir a sombra da mulher encapuzada. Era hora de ir embora com a Morte.

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